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Os espanhóis se relamen com os insectos: oferecem proteínas e nutrientes comparáveis à carne
Ainda que ainda se saborea certa reticencia ao consumo destes pequenos animais, a cada vez são mais os atrevidos para hincarle o dente a grillos ou vermes
Os insectos são um desses alimentos que não todo mundo se atreve a provar e que causam receio nas culturas mais ocidentais, apesar de se considerar um manjar nos países asiáticos. Enquanto seu consumo em Chinesa remonta-se 2.000 anos atrás, em Espanha comercializam-se desde 2018, ainda que nos últimos anos tem ganhado adeptos. Afinal de contas, tal e como diz Marta Ros, dietista e tecnóloga dos alimentos, não há tanta diferença entre se comer um grillo e uma gamba, ou um caracol.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) aponta que em todo mundo se consomem mais de 1.900 espécies de insectos porque "têm um importante valor nutricional" e por isso "podem ser um elemento saudável para incorporar a nossa dieta". As lojas de venda destes bichos para alimentação humana aproveitam esta oportunidade económica para oferecê-los banhados em chocolate, em molho de tomate, em pó ou com forma de barrita energética.
O valor nutricional
Entre estes pontos de venda, esta Insectum, uma empresa de Valencia que conta com uma loja física na capital e surpreende com seus produtos elaborados com bichos, como a "massa feita a base de insectos", as "barritas de proteína com farinha de grillo", as "baratas comestibles" ou os "grillos banhados em chocolate", elaborados em Bélgica. Entre os mais vendidos encontram-se os grillos e os vermes.
No âmbito nutricional, cem gramas de grillos possuem 12,9 gramas de proteína, 5,1 de carbohidratos, 5,5 de gorduras, 75,8 miligramos de calcio e 9,5 de ferro, a isso lhe sumamos vitamina B12 e magnésio. Assim mesmo, as proteínas de grillo contêm 9 aminoácidos. Por outro lado, o verme da farinha tem um alto conteúdo de proteínas (entre 13,68 e 22,32 g por 100 g de porção comestible) e gordura (entre 8,90 e 19,94 g por 100 g de porção comestible). Proporciona quantidades consideráveis de ácidos grasos poliinsaturados e classifica-se como uma fonte de zinco com um alto conteúdo de magnésio.
Proteínas e nutrientes de alta qualidade
"O insecto é uma fonte importante de aminoácidos, e têm um valor biológico. É proteína pura", realça a Consumidor Global Elena Sánchez, nutricionista e técnica superior em dietética. São comparáveis a um animal de ganadería de consumo habitual, como podem ser a ternera ou o porco. Ademais, contam com um valor proteico de grande qualidade. Por exemplo, a farinha de insecto contiene até um 60 % de proteína.
Assim mesmo, é importante destacar seu nível lipídico (de gorduras). Os insectos acumulam muito poucas gorduras saturadas, ainda que são muito ricos em poliinsaturadas, como o omega-3, com o que poderiam ser uma boa alternativa ao pescado. Por se fosse pouco, também são ricos em micronutrientes, em ferro, cobre, magnésio e vitaminas do grupo B, além de fibra, o que redunda em importantes benefícios para a saúde.
Precauções ao comer insectos
Os insectos comestibles são limpos em si mesmos, mas podem conter produtos nocivos como inseticidas, pesticidas e herbicidas ao posar na grama ou visitar certos campos de cultivo que estão a ser tratados contra as pragas. Desde a loja especializada em insectos Next Food sublinham que nunca é aconselhável capturar insectos para o consumo na natureza, os jardins ou os campos.
"É melhor comprar insectos comestibles em lojas especializadas, já que estes insectos se crían especificamente para o consumo humano em centros de criança/granjas ou recolhem-se em zonas tropicais onde o consumo de insectos é uma prática habitual", explicam. A venda de insectos realiza-se baixo o cumprimento de um regulamento muito rigoroso de segurança e higiene, que abarca desde o processo de criança nas granjas até seu tratamento e embalado final. De facto, as avaliações da Autoridade Européia de Segurança Alimentar (EFSA) servem, precisamente, para clarificar e minimizar todos os riscos destes novos alimentos e garantir um mercado regulado e seguro.
Os quatro insectos autorizados em Europa
Ante a crescente tendência de consumo de insectos em Espanha, a Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição (Aesan) recorda a importância de que o consumidor tome decisões informadas com respeito à ingestão desta fonte alternativa de proteínas que facilita a mudança para dietas saudáveis e mais sustentáveis com o medioambiente.
Actualmente há quatro insectos autorizados no mercado: as larvas do verme da farinha, a langosta migratoria, o grillo doméstico e as larvas de escarabajo do estiércol. Ademais, a Comissão Européia tem autorizado pela primeira vez a comercialização de pó parcialmente desgrasado, obtido de Acheta domesticus (grillo doméstico), como "novo alimento". Por enquanto há oito solicitações pendentes para insectos destinados a ser comercializados em diferentes formas, que actualmente estão a ser objeto de uma avaliação de segurança por parte da EFSA.
Mais adeptos espanhóis
O verdadeiro é que apesar da rejeição que ainda se saborea no país, a cada vez são mais os atrevidos para hincarle o dente a grillos ou vermes. Segundo dados do VIII Observatório Nestlé sobre Hábitos Nutricionais e Estilo de Vida das Famílias (2021), um 19 % dos espanhóis atrever-se-ia a comer insectos para ter uma dieta mais sustentável; deles, um 35,9 % fá-lo-ia sempre que estivessem camuflados como ingrediente e sem que se note, e um 16,4 % transformados em farinha.
Os mais abertos são os jovens, precisamente o colectivo mais concienciado contra a mudança climática. Não obstante, pese a que o Ministério de Agricultura nem o de Consumo têm dados sobre quantos insectos se consomem nestes momentos em Espanha, as empresas dedicadas à venda de insectos têm esgotados já alguns de seus produtos, como as "tarántulas" por 12 euros. Sinal de que se vendem.
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