Diferenciar uma sandía nacional de uma marroquina: missão impossível num súper

Os agricultores queixam-se de que as importações desta fruta se dispararam, de que produzem a perdas e da falta de um etiquetado claro

Una mujer sostiene un trozo de sandía
Una mujer sostiene un trozo de sandía

No final de abril chegarão aos supermercados as primeiras sandías da temporada. Jugosas e refrescantes como poucas, a demanda se dispara com a chegada do calor e em verão se convertem em aliadas indispensáveis para muitos. Como merienda na praia, para o postre ou em qualquer outra situação, sempre se agradece uma boa ración desta fruta, da que Espanha é um de principais produtores no mundo. Segundo as estatísticas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o país ocupou em 2019 --no último ano com dados disponíveis-- a decimocuarta posição a nível global com uma produção de 1,2 milhões de toneladas.

As fontes do sector consultadas por Consumidor Global coincidem em que a huerta espanhola é suficiente para abastecer a demanda nacional. No entanto, nos últimos cinco anos disparou-se a importação de sandías. Um estudo da organização agrária Coag indica que no último lustro se multiplicou por nove. Das 10.572 toneladas que chegavam em 2014 desde países como Marrocos, Senegal ou Brasil, em 2020 a quantidade ascendeu a 88.603 toneladas. A produção a perdas --sobretudo no início da campanha-- é o principal impacto para os agricultores. Queixam-se de que não podem competir em igualdade de condições com países com preços de derrubo devido a uns controles fitossanitários mais laxos e a umas piores condições trabalhistas dos trabalhadores. Ademais, as organizações agrárias lamentam que nos supermercados, pelo geral, é muito difícil conhecer a procedência destes produtos.

Um etiquetado deficiente

É obrigatório que no etiquetado das frutas e hortaliças, ao igual que em outros produtos alimentares, se indique de maneira clara o país de procedência das mesmas. "É um direito que se lhe nega aos utentes porque nos supermercados é muito difícil saber a origem das sandías. Se estes pudessem identificar as de procedência espanhola ao menos teriam a opção de eleger", afirma a Consumidor Global Andrés Góngora, responsável nacional do área de frutas e hortaliças de Coag. "É uma fraude e desde faz tempo reclamamos que esta informação se proporcione de forma clara", agrega. Ademais, destaca que nos estabelecimentos também não se diferenciam em estantes diferentes ou com algum tipo de cartelería as frutas que são de importação das nacionais.

À margem dessas dificuldades, outra questão que escama aos produtores é a do reetiquetado. Nesse sentido, há empresas em Espanha que são produtoras de sandías e, ao mesmo tempo, importadoras. "Algumas destas companhias, quando põem as sandías no mercado, o que fazem é não indicar a origem e mudar as caixas para as fazer passar por um produto nacional", relata José Ugarrio, técnico da organização agrária Asaja. Assim, argumenta que aos consumidores às vezes se lhes dá gato por lebre. "É injusto que alguém que procura fruta de qualidade e que paga um preço elevado por ser um produto nacional receba algo que se produz com umas qualidades cuestionables e longe das exigências que há na União Européia (UE). É uma fraude", asevera.

Un montón de sandías apiladas / PIXABAY
Um montão de sandías empilhadas / PIXABAY

Controles fitossanitários mais laxos

Essa laxitud quanto às exigências da produção de frutas e hortaliças é um dos principais atractivos de importar sandías procedentes desde países como Marrocos, Senegal ou Brasil. Em Espanha seguem-se os regulares de cultivo marcados pela UE, "que são dos mais restritivos do mundo quanto à utilização de produtos fitossanitários", asevera Agurrio. Assim, alguns inseticidas ou fungicidas que na UE estão proibidos por seu possível impacto na fauna auxiliar e que abaratarían os custos de produção, nesses países estão permitidos. Apesar disso e de que nas fronteiras se fazem poucas análises, os experientes consultados afirmam que as sandías de importação são seguras para os consumidores. Não obstante, a sandía procedente de Marrocos --que em 2020 representou o 81 % da importação total, segundo Coag-- tem liberada a entrada no mercado do Velho Continente devido aos acordos comerciais.

À margem das diferenças nos regulares sanitários, outro aspecto que abarata as compras a estes países tem que ver com as condições trabalhistas de seus agricultores. "Competir com eles é muito complicado por um tema de impostos, de Segurança Social e também da legislação que temos que cumprir, que é um custo acrescentado. Ademais, a mão de obra é bem mais barata", assinala o técnico de Asaja. Nesse sentido, defende que não se trata de piorar as condições em Espanha, sina de operar em igualdade no mercado. De facto, estes desequilíbrios provocam que os produtores nacionais trabalhem a perdas, sobretudo no começo da temporada. Góngora detalha que produzir um quilo da variedade de sandía mais comum custa uns 60 céntimos o quilo. No entanto, o que se paga aos produtores são ao redor de 50 céntimos. Ademais, aos supermercados chegam algumas peças que se comercializam a uns 40 céntimos o quilo, assinala este experiente.

Não há diferenças no sabor

Não há diferenças de sabor entre as sandías nacionais e as de importação, coincidem Góngora e Agurrio. Sobre isso, o responsável por Coag assinala que há empresários espanhóis que se vão a Marrocos a produzir as mesmas variedades que aqui e com técnicas de cultivo similares. "Replicam os métodos, mas de uma forma bem mais barata. Isto também é um expolio, porque esta fruta requer muita água e nesses países não há demasiada. Aqui empregamos menos devido à utilização dos invernaderos", argumenta Góngora.

A temporada da sandía em Espanha estende-se desde finais de abril e começos de maio até setembro. A primeira que se produz se conhece como temporã e desde faz uns anos está a deixar de ser rentável. Segundo as organizações agrárias consultadas, isto se deve a que a campanha de importações das grandes correntes de distribuição arranca também em abril e isso afunda os preços. Esta situação tensiona o mercado e faz que esse abaratamiento se prolongue durante o resto da temporada como há mais oferta que demanda. Nesse sentido, no sector pedem às centrais de compra que apostem pela produção nacional e que evitem práticas "especulativas" com importações que consideram "desnecessárias". Apesar do aumento de compra-las no exterior, as organizações agrárias assinalam que não tem tido uma redução no número de hectares deste cultivo.

Uma situação parecida com cítricos e calabacines

Os agricultores lamentam que outras frutas e hortaliças também estão afectadas pelas importações desde terceiros países. Esse é o caso de cítricos como a laranja ou a mandarina que chegam desde África do Sul e, inclusive, desde o próprio Marrocos. Neste grupo também se incluem os tomates, as judias verdes e os calabacines, detalham as fontes consultadas.

Por esse motivo, esgrimem a necessidade de que o cultivo espanhol tenha preferência nas compras das grandes correntes de distribuição e também reclamam que se melhorem aspectos como o etiquetado. "Se aos consumidores dá-se-lhes a escolher com clareza, pelo geral vão optar pelos produtos nacionais", opina Agurrio.

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