O comedor escoar é um desses lugares que, já adultas, muitas pessoas recordam com antipatía. Mas também é o lugar onde muitos meninos aprendem a relacionar com a alimentação, descobrem que é são e daí deveriam comer. No mês passado, o Ministério de Consumo apresentou seu projecto de Real Decreto para transformar os menus escoares, nos que brotariam mais produtos frescos, desceriam os fritados, e teria mais ecológicos e de proximidade. Até aqui, tudo soa desejável. Mas quando essas ideias entram em contacto com a realidade, o resultado é um incremento de preço nos comedores que pode ser de até um 25 %. Assim o anunciou Food Service Espanha, a federação que integra às principais companhias do sector da restauração colectiva.
Consumo quer que o peso das frutas e verduras aumente até um 45 % e fomentar a dieta mediterránea, mas as empresas que alimentam aos meninos nos comedores não vêem nada claro o plano. O pescado ainda não está vendido: segundo o calendário que maneja o ministério que lidera Alberto Garzón, a norma implementar-se-ia o próximo curso. Terá que ver qual é a conjuntura económica então.
Obligatoriedad de produtos ecológicos e de proximidade
Uma das exigências do real decreto que menos convence à Federação é a de implementar uma quota de 5 % de produtos ecológicos ou de proximidade. Em palavras de María López, porta-voz da entidade, nem o ecológico nem o de proximidade tem "nenhum impacto nutricional". Félix Martín, experiente em segurança dos alimentos e autor do livro negro da segurança alimentar na cozinha, admite a este meio que não há diferenças nutricionais entre um produto de proximidade e um que não o é, mas acha que a introdução de cor ("mais tomates, lechugas, cenouras…") sempre é boa. Por tanto, valoriza positivamente o plano do Governo, mas admite que tem suas arestas.
Desde a Federação indicam que têm analisado "ao detalhe o conteúdo e os envolvimentos do rascunho de projecto de lei", e, em alguns pontos, se mostram totalmente na contramão. Entre outros problemas, criticam que a norma "dá as costas ao mapa de desertificação e de aridez de Espanha já que conseguir alimentos de proximidade, em certas regiões de Espanha, vai demandar um consumo de água que de forma natural não têm". Isto é, que se o plano de Consumo sai adiante, Food Service não só não acha que o meio ambiente se beneficiasse, senão que seria contraproducente. Também pode ser difícil encontrar certos produtos de proximidade. Por exemplo, em Madri seria "praticamente impossível" dar com alguns deles "nas quantidades demandadas", arguyen.
"O menu não teria por que ser mais caro"
María Capellán, presidenta da Confederação Espanhola de Associações de Mães e Pais do Alumnado (Ceapa), conta a Consumidor Global que estão "totalmente" a favor do decreto. "Já era hora de que o propusessem a nível nacional", expressa. Sobre o possível encarecimiento dos menus se lha norma sai adiante, Capellán mostra-se prudente e prefere não adiantar acontecimentos. "Opinamos que, se apostas pelos produtos de proximidade, te poupas o transporte, de modo que o menu não teria por que ser necessariamente mais caro. Sim é verdadeiro que se trazes os alimentos de Chinesa , onde pagas uma miséria aos agricultores, sim sai mais barato, mas há que ver que compensa. Que preferimos?", pergunta-se Capellán, que sublinha a cercania como um factor diferencial que "contribui valor".
Ademais, a presidenta de Ceapa acha que o incremento de preços já é algo que alguns comedores "estão a dizer" com o argumento da inflação e o encarecimiento da gasolina, dois problemas reais e acuciantes. Não obstante, subir mais as tarifas "com a desculpa disto" não lhe resulta tão convincente. Neste sentido, apela aos antecedentes: argumenta que já tem tido experiências positivas em colégios nos que o Ampa se feito cargo da alimentação dos comedores e tem seguido uma linha saudável. Nesses casos, assegura, o preço não tem variado ou o fez muito pouco. "A alimentação saudável não só traz benefícios à saúde dos alunos, sina à do planeta", acrescenta, contundente.
Os comedores partem de uma situação muito delicada
Faz três meses, em julho, a Federação já avisou de que vinham curvas e que era importante actualizar as tarifas nos centros onde não se tinha feito. "E mais grave ainda é a incapacidade prática que têm as empresas para se desvincular de concursos públicos que lhes tenham adjudicado e tenham devindo em ruinosos", disseram então. Mais tarde, em agosto, publicaram um comunicado no que se dizia que a situação dos comedores da Comunidade de Madri era "crítica", já que o sector tinha absorvido um incremento de custos superior ao 12 % ao mesmo tempo que as tarifas do comedor na Comunidade permaneciam congeladas "desde faz 9 anos".
Por sua vez, Capellán acha que "é verdadeiro que em alguns lugares não têm subido, mas serão os menos". Algumas comunidades que já têm anunciado que o comedor escolar será mais caro são Andaluzia ou Extremadura.
Grandes empresas em frente a pequenos produtores
E daí passa com as empresas? Félix Martín acha que a introdução a mais alimentos locais e sustentáveis "supõe ir um pouco para além do que é simplesmente nutrição. Supõe compromisso social com a sociedade e o medioambiente. Como consumidores, podemos decidir se vamos a uma grande superfície ou ao pequeno comércio, mas não sei até que ponto seria positivo que o Governo o impusesse", arguye.
Para a Federação, o alimento local por lei é uma "imposição" que "restringe a concorrência, criando autênticos lobbies de produtos e revendedoras locais". Ao respeito, Capellán mostra-se céptica. "E daí há agora? Agora são grandes empresas que se repartem quase tudo, da outra forma, terá muitos mais lugares e muitos mais produtores", opina.
Problema da obesidad
A lei pretende, entre outras coisas, reduzir o drama da obesidad infantil em Espanha. Segundo Save The Children, a taxa de obesidad infantil em Espanha ascende ao 18%. De facto, é um dos assuntos nos que mais tem incidido Alberto Garzón à hora de falar de alimentação. Food Service trata de desmarcarse e defende que a doença "tem uma origem multicausal e complexo, já que intervêm factores genéticos, biológicos, de estilo de vida… Pelo que não se deve assinalar exclusivamente a comida do comedor escolar para combater este problema". Enquanto, Capellán defende que os estudos mostram como são "as classes desfavorecidas", com menos recursos, nas que mais incide esta doença. "E, para eles, a comida mais importante é a do comedor", aponta.
Félix Martín mostra-se conciliador. "Às empresas, como é lógico, lhes interessa oferecer produtos económicos para ter rentabilidade e assegurar suas margens", concede, conquanto acha que atalhar o problema da obesidad é "fundamental". O que não crê Martín é que o menu possa chegar um subir um 25 % ao todo. "Subiria pelos alimentos ecológicos e os de proximidade, sim, mas não tanto o menu inteiro", calcula. Por último, acha que quando as famílias "estão com o água ao pescoço" há coisas que "passam a segundo plano". A encrucijada está servida.