Uns Doritos que não crujían ao os mastigar. A impossibilidade desta característica surpreendeu e criou muita expectación. A marca prometia o lançamento de uma versão dos populares triângulos de milho, ignorando o som ao mastigá-los. Tiveram que passar até duas semanas para que a empresa revelasse o segredo deste anúncio: um software denominado Crunch Cancellation permitia silenciar os crujidos de Doritos em tempo real ao falar por um microfone. Pode-se considerar uma campanha publicitária enganosa?
Em realidade, este software, criado por TBWAEspanha e desenvolvido por Glassworks, lançou-se ao mercado no ano passado, e centrou-se no sector do videojuego. Assim, todos os gamers poderiam desfrutar de seu snack favorito durante suas partidas, sem que os demais jogadores percebessem seus crujidos. Crunch Cancellation actua sobre a entrada de audio e é capaz de detectar a onda de som da voz e diferenciar das ondas sonoras que geram os crujidos ao mastigar, os eliminando completamente nas conversas on-line.
As duas fases
"O sucesso desta ideia fez-nos propor-nos a grande utilidade deste ingenioso software em outros colectivos para além do gaming. Porque a todos nos entrou a fome no meio de uma reunião virtual, e agora poderemos desfrutar de nossos Doritos sem tapujos", assinala David Bardaji, responsável por Marketing de Snacks em PepsiCo Sudoeste de Europa. A descarga deste software é completamente gratuita.
Doritos, para realizar este anúncio decidiu dividí-lo em duas fases. A primeira jogou com a ideia do suposto lançamento de um novo produto, os Doritos Silent, que não emitem nenhum crujido ao os mastigar. Realizou publicidade em suportes exteriores, cinemas, redes sociais e através de influencers, o que gerou o debate entre seu público sobre se fosse possível a existência de um produto assim. Na segunda fase, desvelou que o produto é realmente o software Crunch Cancellation.
É publicidade enganosa?
"As empresas precisam fazer campanhas mais criativas para chamar a atenção dos utentes porque, ao final, todos fazem o mesmo", expõe Neus Costumar, professora de marketing na Universidade Aberta de Cataluña (UOC). "Já de por si criámos uma rejeição automática a todo o que nos soa a publicidade. Se, ademais, as marcas fazem o mesmo tipo de anúncio, pois não se vê. Sempre vão procurar fazer uma campanha mais criativa e que gere expectación", realça a experiente sobre esta estratégia.
Costumar argumenta que, ao realizar a compra, o produto segue sendo o mesmo, não há nada inovador. A única inovação é o software que promovem. "Não têm enganado porque, para que o Doritos não cruja, tenho que comprar o produto e descarregar este software. Se tivesse que pagar pela descarga sim que seria um engano. Só pelo facto de que não to digam inicialmente não se trata de uma falsidade", realça a professora a Consumidor Global.
"Recorda-me à campanha publicitária 'Amo a Laura'"
"O verdadeiro é que estamos num momento com a pele muito fina, onde tens que ir com cuidado. Às vezes as marcas passam de rosca e sim que podem chegar a enganar, mas neste caso não", conclui Costumar. "Este é um tipo de publicidade na que se mostra algo e depois se explica", acrescenta.
A experiente em marketing comenta que as campanhas se podem dividir por etapas –como é este caso– e a primeira de "expectación" não conduz ao engano. "Recorda-me à campanha publicitária Amo a Laura. Pelo então, não se sabia que se anunciava concretamente, mas enganchó muito ao público. São estratégias mais criativas e mais divertidas. Ao final, as marcas obtêm o resultado que querem, que é chamar a atenção do consumidor. Depois já lhes explico de que vai o rollo, porque já o tenho enganchado", destaca.
Os gamers já estão acostumados
Para Costumar, pese a que a marca quer extrapolar o software a um público mais objectivo, o anúncio está focado em clientes gamers. "Eles estão acostumados a este tipo de campanhas, porque é uma estratégia muito própria dos videojuegos", declara.
"As empresas que criam e desenvolvem videojuegos, desde o momento em que começam a criar o videojuego até o momento em que o lançam ao mercado --que pode ser tranquilamente médio ano mais tarde--, estão a criar expectación de como será. Depois, não tem porquê ser exactamente como se disse que seria. Os gamers estão acostumados a este tipo de campanhas. Desde Doritos têm realizado o mesmo tipo de estratégia que aquelas empresas de videojuegos", finaliza Costumar.