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Atirar comida ao lixo custa aos espanhóis 3.000 milhões de euros ao ano

Em Espanha se desperdician quase oito milhões de toneladas de comida anualmente, isto é, uns 170 kilogramos por pessoa

Mónica Timón

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Alguns dos platos mais representativos da gastronomia espanhola provem/provêm do telefonema cozinha de aproveitamento, receitas para sacar o máximo partido à comida e não ter que atirar nada. É o caso das croquetas, para as que tradicionalmente se utilizam as sobras do cocido, ou da sopa de pan, na que o principal ingrediente é o excedente dos chuscos duros de dias anteriores. Desta filosofia derivou o costume de besar o pan dantes de atirá-lo, um alimento quase sagrado, ainda que agora acaba no lixo sem muitos remordimientos.

A dia de hoje, ter um plato na mesa é, para a grande maioria, algo tão comum que o valor dos alimentos tem passado a um segundo plano. O corroboran os dados da FAO que concluem que os espanhóis atiram ao contêiner quase oito milhões de toneladas de alimentos ao ano, isto é, uns 170 kilogramos por pessoa, o que converte a Espanha no sétimo país da União Européia que mais despilfarra. Em termos económicos, toda essa comida desperdiciada se traduz em 3.000 milhões de euros anuais, uns 64 euros por habitante, segundo cálculos do Ministério de Agricultura, Pesca e Alimentação.

Uma poupança económica

Evitar que os alimentos se caduquen ou lhes dar uso às sobras é beneficioso para o bolso dos consumidores. De facto, numa família de quatro membros a poupança pode ser superior aos 250 euros anuais, segundo um dado da Confederação Espanhola de Cooperativas de Consumidores e Utentes. E outra maneira de poupar dinheiro, mais do século XXI, é utilizar aplicativos que ligam aos consumidores com estabelecimentos de comida, como panaderías e fruterías, para que possam comprar a um preço mais reduzido o excedente de produto que lhes sobra às lojas ao final do dia.

"Os negócios obtêm um benefício que davam por perdido, enquanto os clientes compram produtos de qualidade com uma poupança próxima ao 60 % do preço real", explica a Consumidor Global Carlos García, porta-voz de Too Good To Go, uma destas apps. García ejemplifica a dinâmica com uma panadería que, a ponto de acabar a jornada, cria um pack que vale nove euros e que inclui pan, empanada e bollería à que não tem podido dar saída. "Através da app, no entanto, um consumidor pagará por esse pack três euros, isto é, um terço do que teria abonado ao início do dia", acrescenta García.

Receitas de aproveitamento

Os consumidores livram sua própria batalha contra o despilfarro em casa. "Ainda que a sociedade está a cada vez mais concienciada, as cifras seguem sendo alarmantes", lamenta Toni Massanés, director da Fundação Alicia, que trabalha para melhorar os hábitos alimentares. Uma das opções para reduzir a quantidade de comida que acaba no lixo nos lares espanhóis é voltar às receitas de aproveitamento, "algo que não é novo, mas que temos esquecido quase por completo", enfatiza. De facto, este experiente recorda que a geração de nossos avôs o aproveitava tudo, "não porque pensassem na sustentabilidade do planeta, sina em seus bolsos e na poupança que reutilizar comida supunha".

Ademais, Massanés recomenda decidir que se vai comer com a geladeira aberta, pois assim se pode ver que alimentos estão a ponto de caducar ou quais têm sobrado de dias anteriores e urge consumir. "Há que ver os restos de comida como uma oportunidade e não como um desperdicio, pois não estão menos deliciosos que nos dias anteriores", agrega. Também é importante não comprar promoções em alimentos perecíveis, pois "nos levamos mais quantidade de comida pensando na oferta económica, mas sai mais caro porque se jogam a perder". E, por último, Massanés recorda que as frutas e verduras de temporada aguentam mais tempo, o que pode ajudar a lhes dar saída.

Doar o excedente

Utilizar o aplicativo já mencionado ou outras similares, como Nice To Eat You ou Komefy, é uma maneira singela de que os consumidores ajudem a reduzir o desperdicio de comida em estabelecimentos de alimentação. Mas muitas empresas também contam com estratégias pensadas com esse mesmo objectivo. É o caso da corrente Joelho. "Os sándwiches elaboram-se no mesmo dia e em função da venda, pelo que o estoque está muito controlado para que não sobre nada", conta a este médio Ángel Fernández, director de marketing da companhia.

Além de um correcto planejamento, "o pouco produto ao que não se lhe dá saída se doa a comedores sociais", enfatiza Fernández. Esta prática, a cada vez mais comum, também a praticam vários supermercados, onde, segundo dados da consultora Nielsen e de Aecoc, o 12 % dos excedentes se doam a comedores sociais ou bancos de alimentos e o 83 % dos revendedores têm um plano contra o despilfarro alimentar, como identificar e reduzir o preço dos alimentos a ponto de caducar.