Existem muitos motivos para sofrer de insónia. Ansiedade, más rotinas de descanso, excesso de cafeína ou um ambiente pouco apropriado para o sono são algumas das causas que levaram mais de quatro milhões de espanhóis, quase 10% da população, a sofrer de transtornos crónicos do sono. O desconhecimento ou a pressa por encontrar uma solução leva muitas pessoas a optar pela via rápida: sedativos de venda livre que facilitam o sono, entre os quais destaca a Dormidina.
A Dormidina é composta por doxilamina, um anti-histamínico. Trata-se de um inibidor do neurotransmisor da histamina, encarregado de manter o cérebro alerta e sustentar o estado de vigília. Embora existam outros compostos de venda livre acessíveis nas farmácias, como os extractos de valeriana ou pastilhas de melatonina , estes só ajudam o corpo a relaxar para facilitar o sono. A doxilamina provoca uma dormência quase instantânea, meia hora depois de ser ingerida, pelo que tem tido grande sucesso entre pessoas com dificuldades em adormecer, ainda que este não seja o objectivo do medicamento.
Uso impróprio e excessivo
A Dormidina é indicada para um uso momentâneo e pontual, como uma viagem longa ou uma noite depois de um voo, na qual o corpo pode estar confusi ao mudar a rotina de sono. O problema é que, graças ao seu efeito imediato, muitas pessoas se acostumaram a consumir estas pastilhas de forma recorrente. "Neste último ano gerou um consumo exagerado de sedativos com receita, inclusive por parte de quem não precisa. Quando tens insónia existem duas opções: produtos naturais, que não apresentam efeitos a curto prazo, ou recorrer à doxilamina", assinala à Consumidor Global Matilde Yáñez, farmacêutica e professora de Farmacoterapia em Atención Primaria en la Universidad de Santiago de Compostela.
Segundo esta especialista, este medicamento é fácil de usar, já que é eficaz e não gera dependência psicológica, ainda que produça uma enorme tolerância à medida que se utilize, pelo que cada vez mais se precisa uma dose maior. Também alerta de que é um faca de dois gumes, porque uma vez tendo sido ingerida, o efeito da doxilamina não desaparece por completo e permanece no corpo entre 10 e 12 horas. Isto signfica que, se não se dorme durante este tempo, o cansaço e a fadiga ao acordar pode ser muito maior que se se tivesse sofrido de insónia.
Dormir não é sinónimo de descansar
A Dormidina, apontam os especialistas, não é uma solução para o déficit de sono crónico, mas sim um adesivo de curto prazo. Mas consegue adormecer as pessoas que o precisam após várias noites sem poder fechar olho, ao menos na teoria. "Não existe evidência de que a doxilamina seja eficaz contra a insónia; e mais, é contra-producente. Se o consumidor sente que por fim conseguiu dormir, o faz de forma superficial, sem atingir as fases profundas do sono que se precisam para conseguir um verdadeiro descanso", explica a doutora Rybel Wix Ramos, neurofisióloga clínica e especialista em medicina do sono no Hospital HM Sanchinarro de Madrid.
A médica alerta de que, ainda que não haja risco de dependência, sim que pode se produzir um forte efeito rebote se após tomar Dormidina de forma habitual se elimina a sua ingestão inesperadamente, pelo que é conveniente reduzir pouco a pouco o seu consumo. "A única forma de curar a insónia é através da exclusão de hábitos nocivos para o sono, como os ecrãs, o ruído ou a iluminação perjudicial, bem como introduzir uma rotina de exercício físico. Nenhuma sedativo pode solucionar o problema de raiz", sublinha a médica.
Efeitos secundários
Outro factor a ter em conta são os possíveis efeitos que podem derivar do consumo prolongado da Dormidina. Ainda que não tenha efeitos negativos como tal, há uma série de riscos associados a circunstâncias como a idade ou algumas doenças. Assim, as pessoas mais velhas podem ser mais propensas a sofrer problemas de hígado ou rins ao tomar doxilamina de forma continuada.
Ao aproximar-se o verão também se devem ter em conta outros efeitos. A histamina reduz a transpiração e além disso pode causar fotosensibilidade, pelo que um passeio a altas temperaturas pode acabar num golpe de calor severo. "Dada a duração da substância química no corpo, não é boa ideia tomar sol depois de recorrer uma noite à Dormidina" alerta a doutora Yáñez.
A importância de regular o seu consumo
"A tendência de consumo deste tipo de medicamentos sem receita é difícil de seguir, já que não se pode traçar um controle na sua prescrição ou dispensação", explica Carlos Fernández Moriano, membro do Conselho Geral de Farmacêuticos. A partir deste organismo, aponta-se a necessidade dos utilizadores regularem o seu uso, tanto no tempo como na quantidade da dose, já que é importante adaptar os horários do dia à ingestão do medicamento. "Não se pode tomar sem mais, há que controlar os efeitos e se adaptar a eles. Se se sente sonolencia diurna implica que a quantidade assimilada é maior do que a necessária", explica o farmacêutico.
A facilidade de compra e o efeito que produz não devem ser confundidos com um mecanismo de sono ao qual nos acostumamos. Os especialistas avisam que a sensação de fadiga após ingerir doxilamina dificulta a atenção e a reação motora, pelo que se desaconselham atividades tão habituais como conduzir.