Uma bateria para o telemóvel gratuita é o anzol. Quem recusaria uma power bank de presente para carregar o telemóvel em qualquer parte? É um bem de primeira necessidade, e a Hubside, uma empresa especializada em dispositivos multimédia que está em plena expansão em Espanha, oferece promoções especiais de abertura ao pé de loja e as distribui. O anzol é infalível, mas, segundo vários afetados, vem com uma armadilha.
No início tudo é bonito, inclusive o comercial, que transborda simpatia. Confias nele. Assegura-te que fazeres-te sócio da Hubside e desfrutar de milhões de serviços e descontos, além de te dar a bateria portátil, é grátis durante o primeiro mês e que o contrato não tem permanência nem compromisso algum. "Só precisa cancelar a inscriçãor". Então, assinas as 14 páginas do contrato e dás os teus dados pessoais e o teu número de conta, com IBAN incluído. A confiança esfuma-se ao fim de uns dias, quando o saldo da conta começa a diminuir.
Uma bateria para o telemóvel, a priori, grátis
É a "fraude da Hubside", expõe a este meio María R., uma afetada que não entende como esta empresa que "é uma fraude" pode ter lojas físicas no shopping Diagonal Mar (Barcelona) Islazul e Xanadú (Madrid), entre outros.
E Samuel A. pensa o mesmo. Estava a fazer compras com o seu parceiro quando um rapaz num stand os abordou. "Disse-nos que se fossemos à loja de Hubside presentear-nos-ia com uma power bank", explica. Uma vez no interior do estabelecimento, para levar a bateria externa tinham que assinar "uma série de contratos totalmente gratuitos" para garantir os dispositivos, obter descontos em compras, testar artigos da loja e outros serviços. "Disse-nos que nos podíamos cancelar durante o primeiro mês. Que não tinha nenhum compromisso. Parecia fácil", acrescenta. Mas, antes de cumprir o primeiro mês "começaram a chegar cobranças de 6 e 10 euros", relata. No entanto, da Hubside insistem que "no primeiro mês é gratuito e que só a partir do segundo mês a assinatura tem uma cobrança".
A armadilha da Hubside é descoberta
Depois de detetar várias cobranças, Samuel pôs-se a ligar às quatro empresas que constavam no contrato que tinha assinado (Hubside, Celside, Pass' Location e SFAM) para se desvincular. Em dois delas "não tivemos problemas, mas com as outras duas não pudemos contactar e começaram as dores de cabeça", acrescenta este afetado.
Enquanto isso, María reconhece que lhe cobraram primeiro 19,99 euros em dois dias diferentes de um mesmo mês, e ao cabo de uns dias voltaram a cobrar-lhe duas vezes 49,99 euros. Ao todo perdeu em pouco tempo 140 euros. "Um dinheiro do qual não me disseram nada em nenhum momento", queixa-se.
Vários afetados
Após o desgosto e de ler em fóruns sobre a Hubside, "vejo que não fui a única a quem aconteceu", explica María. Imediatamente, tentou desvincular-se do serviço, mas disseram-lhe que não podia porque tinha assinado um ano de fidelização. Após protestar e de ligar a todos os números, supostamente a desvincularam, mas então "entro no banco e vejo que acabam de fazer outras três cobranças por quase 100 euros. Que golpistas!", narra a afetada.
Já desesperada, María voltou à loja da Hubside para solucionar o problema de raiz. "Então admitiram-me que a coisa da fidelização era mentira e desculparam-se pelo ocorrido". Segundo o diretor da loja Hubside do shopping Diagonal Mar, "o departamento de marketing põe-se em contacto com todos os clientes descontentes". Algo que não concorda com a versão dos afectados.
A odissea de Samuel continua
Samuel por sua vez tem recebido cobranças de até 150 euros desde se que deixou enganar pelo funcionário da Hubside. Para não perder esse dinheiro, tem que conversar quase todas as semanas com seu banco para que lhe devolvam os pagamentos.
"Agora tenho que voltar a ligar para ver se consigo que me deixem em paz de uma vez. Investi muito tempo e não tem sido fácil", expõe. No entanto, o que não sabe Samuel é que, até certo ponto, tem tido sorte. É que há consumidores que não olham para a conta tão com frequência e perderam milhares de euros. "A funcionário da Fnac colocou-me com colocou outro produto chamado Hubside com o seguro Celside", explica Jordi Solà na Trustpilot, que, sem perceber, tiraram-lhe mais de 2.000 euros da conta. Denunciou o que aconteceu aos Mossos d'Esquadra por "fraude" e "golpe", mas "quando me vão devolver o dinheiro que tiraram sem a minha autorização?", pergunta-se.
Como recuperar o dinheiro?
A primeira coisa "é contactar com a entidade bancária para solicitar o reembolso, devolver todos os recibos e cancelar o débito direto", expõe à Consumidor Global a vogal da Subcomisión do Conselho Geral da Advocacia Espanhola sobre Direitos dos Consumidores, Rosana Pérez Gurrea.
O passo seguinte será pôr-se em contato com a empresa, se é possível, ou ir ao estabelecimento, pedir o livro de reclamações, preenchê-lo, e levar ao Escritório de Consumo mais próximo. Em último caso, se a situação não se resolve de forma favorável, é aberto o processo judicial para reclamar este tipo de valores.
Saltam os alarmes
A advogada da Legálitas Henar Hernández aponta que o da Hubside parece ser "um incumprimento de contrato", pelo que os afetados podem exigir de forma imediata a resolução do mesmo e uma indemnização por danos e prejuízos. Este tipo de reclamações, lamentavelmente, "são bastante habituais", aponta Hernández.
Algumas empresas jogam com o cansaço dos clientes e contam com que a muitos lhes passe o prazo. Enquanto isso, continuam a passar recibos e a colocar um mau atendimento ao cliente e todo o tipo de obstáculos para dificultar a opção de desvincular-se. "Quantos reclamarão junto do Consumo? Cinco? Ele venceram", diz Hernández. Para evitar estas situações, Pérez Gurrea alerta que na hora de assinar qualquer contrato é imprescindível tomar o seu tempo e ler bem o texto. Além disso, quando alguém oferece serviços grátis muitas vezes há gato escondido e devem se acender os alarmes do consumidor.