Phil Knight queria evocar à deusa grega da vitória, Niké; enquanto Levi Strauss, quase 100 anos dantes que ele, escolheu dois cavalos que atiravam de uns vaqueiros em direcções opostas para remarcar a insuperable resistência de seus tecidos. O cocodrilo de Lacoste deriva do alias do fundador da marca, um tenista visionario e mordiente; enquanto Tommy Hilfiger apostou por identificar-se directamente com a bandeira estadounidense para mostrar sua idiosincrasia. Os logotipos, em definitiva, contam histórias. Não ter um implica sugerir uma completamente diferente.
E isso é o que faz Minimalism Brand, uma marca de roupa sem logo que se define como consciente e não só sustentável. Em seu site, que funciona como uma verdadeira biblia da transparência e as práticas responsáveis (apesar de que a companhia aspira a não dar a turra e a inspirar), a fonte de letra é pequena, as cores são mais bem neutros e um se sente como se lhe susurrasen aquilo de I hope someday you will join us.
Outra forma de fazer as coisas
O estilo é relaxado, mas a proposta é radical. "A indústria e a forma de consumo têm deixado de ser humanas. Não pertencem a este mundo, não põem nem ao humano nem ao ecossistema no centro. Não fica outra que as revisar, as transformar e humanizarlas. Há outra forma de fazer as coisas", pode-se ler no site.
Faz umas semanas, Minimalism saltou do meio on-line ao canal físico e abriu uma loja efémera na rua Fuencarral de Madri. Nela, até as perchas se elegeram seguindo critérios de sustentabilidade. Aqui é possível comprovar como o Verbo se faz tecido e comprar t-shirts de algodão orgânico (desde 25 euros), sudaderas (desde 55 euros) ou calzoncillos (32 euros o pack de três).
1.000 t-shirts mensais
Tentar fazer as coisas bem, para Minimalism, implica assumir renúncias e algumas incógnitas: vendem "mil e pico" t-shirts ao mês, conta a este meio Pepe Martín García, CEO da marca, "e tu não as vês pela rua, porque não levam um logo, não levam uma serigrafía… Não sabes realmente onde estão essas t-shirts".
Estas t-shirts, confeccionadas de maneira ética em Portugal com algodão cultivado em Turquia ou em Kazajistán não levam logos porque a assinatura diz não crer num mundo "onde as marcas transmitam classes ou hierarquias". "Nossa roupa destaca por sua qualidade e desenho, não por logotipos. Abraçamos a individualidad e fomentamos a igualdade através de um estilo autêntico e livre de marcas", proclamam.
A importância do tacto
Pelo momento, a experiência da loja (a última estrela em chegar à galaxia de Fuencarral, onde brilham Nude Project, Eme Estudos, Kaotiko ou Blue Banana) está a ser muito boa: Martín conta que estão "a validar coisas" que já sabiam, como que as t-shirts gostam quando se tocam.
"Nós sempre utilizamos algodão orgânico de 180 gramas, algo que ao tacto se nota muitíssimo. Vemos como a gente interactúa com o produto e nos passaram coisas curiosas: entrou à loja uma pessoa que vinha de se comprar umas t-shirts em Muji [uma assinatura japonesa que está na mesma rua]. Tocou nosso produto, voltou a Muji, devolveu seu compra e vinho de novo a nossa loja a levar-se prenda-a", assegura Martín, sem ocultar sua satisfação.
Transparência a todos os níveis
Um dos valores principais de Minimalism, indica, é a transparência "a todos os níveis": a facturação, o funcionamento da empresa, o lugar de fabricação…. Ademais, Martín publica em seu canal de YouTube muitos vídeos "divulgativos" que afundam neste empenho.
Quando começaram, lá por 2017, se deram conta de que "a maioria das marcas e dos negócios eram algo bastante opaco", de modo que tentaram ser cristalinos e exteriorizar "qual é a realidade de um negócio deste estilo, por que os produtos custam o que contam e por que fabricando em Portugal e com algodão orgânico os preços são um poquito mais elevados que na concorrência."
A sustentabilidade a debate
Em 2023, a 'greenfluencer' Pilar Andújar disse a este meio que "não há nada no mundo da moda que seja realmente sustentável". A esta sentença lapidaria, Martín responde com uma mistura de sosiego, entusiasmo e determinação que parece casar perfeitamente com o temperamento da marca.
"Estou completamente de acordo. Eu acho que a indústria têxtil e os hábitos de consumo da gente são mais complexos dos que pensamos (ao ver a abundância de produtos e marcas, já entraríamos em analisar assuntos como o status, o nível adquisitivo, a gestão de dopaminas…), mas eu sempre digo que somos parte do problema, mas também da solução", arguye.
Durabilidade
"O que procuramos quando alguém compra uma t-shirt em Minimalism é que lhe dure três ou quatro anos. Isso é para nós a sustentabilidade: fabricar um produto de cercania, o melhor que possamos e com muita durabilidade, que é onde realmente está a sustentabilidade. Queremos que uma t-shirt se use muito, que depois o cliente lha ponha de pijama e, por último, que a faça trapos", sintetiza.
Com a roupa de Minimalism, um pode se vestir de acima abaixo (há até bañadores ou fundas para o portátil), mas, por enquanto, não fabricam sapatilhas. À pergunta de quais leva ele, Martín ri e cita várias marcas sustentáveis e veganas, mas admite que também, de vez em quando, se calça umas Nike.
Auditoria de qualquer compra
"Tentativa que seja a que está feita com plástico reciclado ou com desfeitos de outras sapatilhas", explica. Em general, o CEO de Minimalism assegura que trata de fazer "uma auditoria de qualquer coisa que compro: onde se fabrica, como, qual é o impacto que tem…"
Se o 90% das vezes o resultado é satisfatório, dá-se por satisfeito. O 10% restante é uma percentagem tolerable. "Acho que não se pode fazer todo perfeito, porque se não, ao final, não vives. Não viajas, não comes… A sustentabilidade para mim é outra coisa: que o produto dure, já seja tecnologia, moda… Ao final, a cada decisão de compra é um voto que fazemos para algo. Há que o fazer perfeito sempre? Há vezes que pode ser perfeito e vezes que não", opina.
Mudar o sector
Este empresário admite que passou "muitos anos enfadado", sobretudo quando começou a centrar nas certificações, em utilizar energias renováveis, em que ao cliente não lhe chegasse nenhum tipo de plástico… "Nós estávamos loucos isso. E, nessa tesitura, um sábado passei pelo Primark de Grande Via, com ondas de gente subindo as escadas. Aquilo me causava um estrés muito negativo, porque me levava a pensar que não queria dedicar a este sector, já que não ia ser capaz do mudar", recorda.
Até que, numa palestra numa universidade, uma garota lhe disse uma frase muito singela: "Nós já sabemos que está mau, mas não gostamos que nos regañen. Tinha toda a razão", considera Martín. A seu julgamento, o que esta compradora de fast fashion vinha a expressar é que muitos como ela simplesmente tratam de satisfazer uma necessidade, sem entrar em disquisiciones morais, o qual não implica que o cliente desconheça as consequências ou os processos.
"A sustentabilidade é muito relativa"
"Ao final, a sustentabilidade é muito relativa, é um termo totalmente ambiguo. É possível que uma marca que fabrique em Índia se diga sustentável, e pode que o seja, porque pode que seu mercado seja o asiático. Onde tem que fabricar o grupo Inditex, se vende por todo mundo?", pergunta-se. "Para nós é mais fácil, porque fabricamos em Portugal e o 90% de nossas vendas são em Espanha", detalha.
Agora bem, quanto Deste modo, assumindo que "há gente que não chega a fim de mês e o único que quer é se comprar uma t-shirt onde seja", Martín acha que o melhor que podem fazer é "tentar fazer as coisas bem e nos cingir ao que realmente somos".
Filosofia da marca
E daí são, exactamente? O CEO de Minimalism explica que sua assinatura é "anti-Black Friday, nunca rebajamos os preços" e declara sua admiração por Patagonia, ainda que sua logo não lhe seduza. Quanto ao perfil do cliente, o 70% são homens, "uns pouco conscientes", com um nível adquisitivo que não é baixo ("também não vamos dizer alto", precisa), a mais de 30 anos e que ademais "não compra muito, sina que o faz de forma bastante meditada".
Assim, o anseio de minimalismo, neste caso, não só é uma reacção contra o empacho, sina que vem precedido de um importante labor de análise e divulgação."Se nós não melhoramos e fazemos as coisas de forma diferente, no dia de manhã as grandes empresas nos vão a reventar, porque podem o fazer. Eu sempre digo que oxalá Minimalism não existisse porque tivéssemos um Zara que fizesse as coisas perfeitas. Mas até que chegue esse momento, Minimalism terá que seguir existindo".