O Governo espanhol tem iniciado um processo para eliminar as Golden Visa, umas permissões de residência especiais que permitem a estrangeiros não pertencentes à União Européia residir em Espanha se investem mais de 500.000 euros em propriedades imobiliárias ou cumprem certos requisitos de investimento.
Esta decisão chega depois de anos de debate sobre o impacto destas visas no mercado da moradia e no acesso a este direito básico para os cidadãos espanhóis.
Um problema para os locais
O programa de Golden Visa foi instaurado pelo Governo de Mariano Rajoy em 2013, como um incentivo para atrair investimento estrangeiro. No entanto, nos últimos anos, têm surgido críticas sobre o efeito que estes investimentos têm tido no mercado imobiliário, especialmente em zonas urbanas com alta demanda e preços elevados.
Cidades como Madri, Barcelona, Málaga, Valencia, Alicante e Palma de Mallorca, as mais demandadas para estes vistos, têm experimentado aumentos nos preços da moradia, o que, segundo o Governo atual, está a agravar o problema do acesso à moradia para os residentes locais.
Quase 11.000 Golden Visa
Desde sua implementação, concederam-se quase 11.000 Golden Visa, a maioria delas vinculadas a investimentos no sector imobiliário.
De acordo com Pedro Sánchez, presidente do Governo, aproximadamente o 94% destes vistos estão relacionados com compra-a de moradias por mais de 500.000 euros, um dado que, para o Executivo, põe de manifesto o carácter especulativo do programa num mercado a cada vez mais tensionado.
Eliminar as Golden Visa
O processo legislativo para derogar as Golden Visa articulou-se mediante uma emenda ao projecto de lei de medidas de eficiência do serviço público de Justiça, aprovada o passado 30 de outubro na Comissão de Justiça.
Dita emenda elimina os artigos finque da Lei 14/2013 que regulavam as condições para obter estas visas. Ademais, estabelece uma disposição transitória que permitirá aos investidores que tenham iniciado o processo dantes da entrada em vigor da lei conservar seu visto de residência.
A quem afecta esta mudança
O relatório da conferência da lei destaca que a mudança não só afectará a quem compram moradias de luxo, sina também a quem investem em dívida pública espanhola (por um custo superior a dois milhões de euros), em acções de empresas espanholas ou em fundos de investimento com mais de um milhão de euros.
A intenção do Executivo é, segundo Sánchez, "garantir que a moradia seja um direito e não um mero negócio especulativo".
Que dizem os experientes
Experientes do Ministério de Moradia e Agenda Urbana consideram que a eliminação das Golden Visa terá um impacto limitado no mercado imobiliário.
No entanto, dados do Anuário Imobiliário dos Registradores da Propriedade indicam que os investimentos estrangeiros representam um segmento importante do mercado, especialmente em transacções superiores aos 500.000 euros. Em 2023, um 9,7% de compra-las realizadas por estrangeiros superaram esta ombreira, e delas, o 50,4% corresponderam a compradores não comunitários.
Resposta às demandas
No último ano, os compradores não comunitários têm incrementado sua participação no mercado imobiliário em 8,13 pontos percentuais. Pese à controvérsia, o Governo tem manifestado sua firme vontade de concluir a eliminação destas visas no final de 2023.
Com este passo, o Executivo dá resposta às demandas de quem consideram que estes investimentos elevam artificialmente o preço da moradia e dificultam o acesso a este direito básico, especialmente nas áreas com maior pressão residencial.