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O pesadelo com Alquilatuhogar e Haya Imobiliária: cobranças indevidas e uma teia de empresas

As empresas, ligadas ao fundo abutre Cerberus, recorrem a consultores supostamente jurídicos que perseguem os inquilinos que já abandonaram o apartamento.

Um casal revê o seu contrato com a Haya Inmobiliaria / FOMONTAJE CG (FREEPIK)
Um casal revê o seu contrato com a Haya Inmobiliaria / FOMONTAJE CG (FREEPIK)

Haya Imobiliária define-se como a empresa de referência no mercado espanhol de gestão do crédito e activos imobiliários. Todos os anos, as operações desta empresa provocam que mudem de mãos uns 15.000 imóveis. E, às vezes, os resultados são desastrosos.

"No ano passado o meu marido contactou pela Idealista com uma agência que oferecia um andar em Sabadell (Barcelona). Tinha muito boas condições e terminou alugando-o. No anúncio especificavam que o andar tinha os serviços cadastrados, e na verdade as condições eram boas, comparadas com as actuais", conta a este médio F. Aguilera. O preço era mais que razoável: 776 euros mensais.

Alquilatuhogar

Apesar de que fizeram os preparativos, o aluguer não era para eles, mas sim para a sogra de Aguilera. Depois de uma análise cuidada, decidiram aceitar e arrendar a casa, porque correspondia ao que procuravam. E foi nesta altura que surgiu um novo nome.

Un cartel indica que se alquila una vivienda / EUROPA PRESS
Um cartaz indica que se aluga um apartamento / EUROPA PRESS

"O primeiro contacto fizemo-lo com a Haya, e quando formalizamos o aluguer, todo o domínio e os e-mails se alteraram para Alquilatuhogar", lembra esta consumidora. Não deram mais importância a este detalhe, mas quando a inquilina se mudou, descobriu que o imóvel tinha "muitos problemas e muitos problemas e incidentes". Alguns deviam-se a deficiências de construção e outros ao uso. Faltava, por exemplo, o orifício de escoamento da máquina de lavar roupa e tinha "janelas de má qualidade onde passava todo o ar", descreve Aguilera.

"Todas as incidências se iam resolvendo"

Em suma, as coisas estavam a avançar, e Haya era recetiva e relativamente diligente. "Todos os incidentes foram sendo resolvidos pouco a pouco e até então tudo corria normalmente, mas era muito notório que não transferiam a eletricidade, não faziam a mudança de proprietário", recorda Aguilera.

Era uma exigência que tinham feito vezes sem conta.

Una persona habla por teléfono / FREEPIK - @stockking
Uma pessoa fala pelo telefone / FREEPIK - @stockking

Ligados à luz da propriedade

Finalmente, decidiram ocupar-se eles mesmos de que se efectuasse a dita mudança. Mas não foi uma mudança como tal: a sua surpresa foi maiúscula quando descobriram que não havia nenhum contrato registado nessa morada. "Marcamos uma visita com um técnico da Endesa para dar alta e confirmou-nos que certamente estavam ligados à luz da propriedade de forma ilegal".

Logicamente, a Endesa não achou piada. "Disseram que, noutras circunstâncias, nos teriam multado no local, mas como viram que a culpa não era nossa, deram-nos dois dias para corrigir a instalação. Caso contrário, a coima teria recaído sobre nós. Prosseguimos, o registo foi feito corretamente, pagámos 179,59 euros e informámos o agente imobiliário da situação", conta Aguilera.

Cobram um mês que não se desfruta

Passados uns meses decidiram deixar o andar, e aí foi quando começaram os problemas a valer. As chaves foram entregues a 28 de fevereiro, precisa Aguilera, mas nos primeiros 5 dias de março receberam a cobrança correspondente ao dito mês. "Ligámos para reclamá-lo e indicaram-nos que recusássemos a cobrança. Por ter saído do andar, logicamente tinha que devolver ao banco", conta. Assim o fizeram.

Una persona sostiene unas llaves / FREEPIK
Uma pessoa sustenta umas chaves / FREEPIK

Não obstante, em meados de março o marido de Aguilera recebeu um telefonema do departamento de cobranças da empresa na qual lhe advertiram que se não efectuava o pagamento correspondente iniciariam um procedimento judicial. "Explicamos-lhes a situação e asseguraram que o deixavam apontado, mas no final de mês recebeu um novo telefonema com a mesma história do procedimento judicial. Até agora não pararam de ligar para cobrar um mês que realmente não deve", relata Aguilera.

"A resposta sempre era a mesma"

O pior é que, além destes incómodos telefonemas, a imobiliária não lhes devolveu o depósito nem a cobrança da instalação da luz. Irritados, optaram por ligar para o departamento de atendimento ao cliente, "e a resposta sempre era a mesma: que já tinham criado a reclamação, que tinha que esperar, ou o direccionavam a outra pessoa, outro número, outro e-mail…", lembra Aguilera.

Finalmente, no inídio de maio a imobiliária mudou de argumento: "A rapariga indicou que, como se tinha feito a devolução da cobrança de março, tinha uma penalização que impedia a devolução do depósito e do pagamento da luz", diz esta afectada. Isto é, que por fazer algo que a própria empresa lhes tinha dito que fizessem para reparar um erro seu, Alquilatuhogar ficou com o seu dinheiro.

La web de Alquilatuhogar / CG
O site da Alquilatuhogar / CG

O que acontece à empresa

Quando este jornal contactou Aguilera, o site da Alquilatuhogar estava em baixo, ou tinha sido apagado. "Até há alguns dias, ainda estavam a colocar apartamentos no Idealista, Fotocasa, etc., mas hoje, quando pesquisei, vi que tinham retirado todos os anúncios. Mas no centro de atendimento ao cliente ainda estão a atender", explicou esta pessoa afetada.

Hoje a página está de novo está activa, mas surpreende que, nas redes, alguns clientes tenham denunciado que a companhia apaga os comentários negativos e o seu próprio domínio.

A teia da Divarian

Ademais, no contrato de arrendamento, que este meio teve a oportunidade de ver, especifica-se que o proprietário do imóvel que alugaram é a Divarian Propriedade S.A .Este grupo, segundo informava a Metrópole Aberta em fevereiro, teve problemas sérios com as administrações: "Em termos de processos contra grandes proprietários, foram abertos 1.242 desde 2019, e duas empresas imobiliárias representam 52%: a Divarian Propiedad com 423 e a Promontoria Coliseum Real Estate com 221", disse o jornal de Barcelona.

Una persona revisa un contrato / FREEPIK
Uma pessoa revê um contrato / FREEPIK

Para traçar a história da Divarian e Alquilatuhogar há que retroceder vários anos e apontar vários nomes. O primeiro deles é BBVA. Em 2017, este banco lançou um lastro. sse ano, aliás, fechou com um preço médio de aluguer de 8,15 euros/m² por mês, um valor que no final de 2023 tinha disparado para 12,1 euros/m² por mês.

Cerberus e BBVA

Também nesse ano, o BBVA uniu-se ao fundo norte-americano Cerberus para constituir de forma conjunta uma entidade que denominou de Divarian Propriedade S.A. Fê-lo, obviamente, para ganhar dinheiro: a Divarian seria a marca que reuniria o negócio imobiliário que tinham combinado, uma vez que o Cerberus compraria 80% do mesmo.

Varias personas protestan contra Cerberus y Divarian en el año 2020 / EUROPA PRESS - DAVID ZORRAKINO
Várias pessoas protestam contra a Cerberus e Divarian no ano 2020 / EUROPA PRESS - DAVID ZORRAKINO

Os números eram monstruosos, tal como a lata: falava-se de 70.000 activos imobiliários que mudavam de mãos. Esta transação permitiu ao BBVA, como o próprio banco celebrou na altura, "eliminar quase completamente a sua exposição ao tijolo e ao cimento". Alguns meios de comunicação social falaram da aquisição de "activos tóxicos" pela Cerberus.

MACC Residencial

Quatro anos mais tarde, o BBVA vendeu à Cerberus o 20% restante que lhe ficava da Divarian. A questão estava resolvida. 

Atualmente, se acedermos à secção de Política de Privacidade do site da Alquilatuhogar, podemos verificar a sua relação com a Divarian, que é mencionada por ser mais uma das empresas que pertencem ao grupo MACC (Promontoria Macc Residencial, S.L), um gigante que também detém a Promontoria MACC Marina Socimi, S.A.U., a Promontoria MACC MARINA RE, S.A.U. e a Licata Residential, S.L.

Un hombre camina frente a un escaparate de anuncios de vivienda / Ricardo Rubio - EP
Um homem caminha em frente a uma montra de anúncios de apartamentos / Ricardo Loiro - EP

Opiniões no Google

As avaliações que aparecem no Google sobre a Alquilatuhogar e Haya Imobiliária são muito más. E não porque os apartamentos têm infiltrações ou porque não tratam da reparação de uma máquina de lavar roupa, mas por coisas muito piores. "A pior agência imobiliária que já vi na minha vida. Pedi a rescisão do contrato com um mês de antecedência e cancelaram várias vezes a marcação para a entrega das chaves. Querem continuar a cobrar-me uma renda que já não tenho! Fraudadores!", queixa-se um cliente.

Outro relatou uma situação muito complicada. Chamou "ladrões" à Alquilatuhogar e reclamou 608,21 euros retidos, valor que não lhe devolveram "porque dizem que tenho uma dívida. E é porque a Prefeitura de Terrasa obrigou-me a pagar-lhes o aluguer a eles durante uma temporada. Já que quem tinha a dívida eram eles com a prefeitura, quase 500.000€ de dívida com a Prefeitura de Terrassa por não pagar os IBIS de todas as suas propriedades", expunha.

Un edificio en obras / FREEPIK
Um edifício em obras / FREEPIK

"Ligam para dizer que não foram pagos".

"Alguns burlões. Todos os meses guardem os recibos porque eles telefonam sempre a dizer que não foram pagos para ver se se safam e obrigam-nos a pagar o dobro", recomendou um terceiro.

"Há 3 meses que me assediam através de supostos consultores jurídicos, dizendo-me que tenho uma conta pendente porque queriam que eu pagasse o mês de março, quando entreguei as chaves na manhã do dia 1. Colocaram-me numa flista de devedores e até estão a incomodar os meus familiares para me obrigarem a pagar, quando são eles que me devem dinheiro por não terem devolvido a caução", afirma outro inquilino.

Este meio tem contactado com a Haya para perguntar por estes casos e para conhecer qual é exactamente a sua vinculação com a Alquilatuhogar, mas, até ao termo desta reportagem, não obteve resposta.

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