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Assim podes conseguir quase grátis um 'feio' e maravilhoso mueble de madeira feito em Espanha LUFE

Esta empresa basca, que fabrica seus artigos com madeira de pino com o olho fixo na sustentabilidade, tem inaugurado uma loja efémera em Madri

Juan Manuel Del Olmo

lufe foto de portada (1)

Nos departamentos de atenção ao cliente escuta-se de tudo: queixas mais ou menos respeitosas, improperios e alguma proposta absurda. São, em verdadeiro sentido, um reflexo da emoção humana: cabe a mais vehemente gratidão e a diatriba mais grosseira. Às vezes (poucas), as declarações do cliente podem inclusive sacar-lhe um sorriso à pessoa que está ao outro lado. Isso é o que lhes passou a uns trabalhadores de LUFE, uma marca de muebles espanhola que pode presumir de fazer um produto "Local, Universal, Funcional e Ecológico".

Receberam o telefonema de uma cliente que queria devolver um mueble recém adquirido porque não gostava de seu aspecto. Não é que fosse demasiado pesado nem que as medidas não lhe cuadraran em seu salão, nem que tivesse algum arranhão ou abolladura. O que ocorria era que as vetas da madeira, dizia, conformavam uma silhueta com aspecto de órgão sexual. Incrédulos, desde LUFE acederam à devolução, por suposto. Mas deram-lhe voltas ao assunto.

Loja efémera de LUFE

Assim, em 2022 LUFE decidiu lançar A Loja dos Muebles Feios, uma campanha de sensibilização que nasceu depois de comprovar que 59 clientes tinham devolvido suas muebles recém adquiridos ao observar vetas e nodos na madeira de suas camas, cajoneras ou armários. Agora, e até o 2 de outubro, o projecto vai para além: as pessoas que vivam em Madri poderão se acercar a visitar a loja efémera que LUFE tem instalado no centro da capital.

Duas pessoas observam os muebles de LUFE / CG

Nesta ocasião, a companhia basca (tem sua sede em Aizarnazabal, um pequeno povo de Guipúzcoa) tem montado, com a colaboração de cinco criadores de conteúdo "comprometidos com a sustentabilidade", uma colecção de 35 muebles "deliberadamente feios" para celebrar a beleza do natural. Tem sido concienzudo, já que têm passado meses seleccionando "lamba-las com os nodos mais caprichosos e veta-las com mais personalidade".

Muebles por 0,13 euros

Agora, qualquer pessoa tem a oportunidade de se levar a casa um destes muebles pagando um preço ridículo: só há que aceder ao site deliberadamentefeos.com, seleccionar o artigo desejado (um burro com perchero, uma cómoda, um puff modular, uma mesa-de-cabeceira ou um precioso revistero, entre outros) e rechear os dados solicitados (nome, apellidos e correio eletrónico). Os 35 afortunados saberão que o são a partir de 10 de outubro, quando LUFE realize o sorteio e comunique o resultado.

Trata-se de uma manobra promocional divertida e inteligente, mas se uma pessoa apaixona-se de um destes curiosos artefactos e a sorte não está de seu lado, também não é o fim do mundo: os preços de LUFE são mais que razoáveis. Por exemplo, uma mesa de comedor de 120x88 cm custa 120,99 euros. Também vendem cadeiras de comedor desde pouco mais de 30 euros, estanterías por 80 ou um mueble para TV (40x158 cm) de madeira natural com dois amplos cajones por 153,99 euros.

Uma mesa da marca / LUFE

Empresa de sucesso

Com esta aposta por democratizar o acesso às coisas singelas bem feitas ("muebles que qualquer se possa permitir, mas que não tenham um desenho qualquer"), lhes vai bem: em 2023, LUFE facturar 12 milhões de euros e espera fechar o exercício atual com um total de 14 milhões.

"Vendemos muito. Estamos a sacar uns 1.100 bultos ao dia, e um bulto pode ser um mueble ou pode que um mueble esteja repartido em dois bultos", conta a Consumidor Global Enrique Arrillaga, fundador de LUFE. Ele criou a empresa com sua mulher em 2014 e actualmente são umas 50 pessoas as que trabalham em plantilla em Aizarnazabal, mas detalha que "uma empresa produtiva como está ao final move muita gente": barnizadores, as pessoas que fabricam os colchões, 7 agências de transporte diferentes…

"Vamos a por isso"

"O mais satisfatório é ver como nos estamos a converter, creio, numa boa empresa: estamos a aprender muito, crescendo muito e temos acesso a metodologia Leiam Manufacturing [um método que se centra na optimização do sistema de produção mediante a eliminação de desperdicios]. Somos curiosos, observamos, fixamos-nos em de que formas podemos melhorar e vamos a por isso. E temos médios para poder fazê-lo, porque o negócio atira", agrega Arrillaga, com uma mistura de orgulho e respeito cauteloso.

Há quem descreveu-os como "o Ikea basco", mas é uma definição demasiado estreita: LUFE só trabalha com madeira local com certificado PEFC, um selo que garante que o consumidor está a comprar um produto que se sacou de bosques geridos sosteniblemente. "A madeira não é só bela. Quando entras numa casa decorada com muebles de madeira para valer, sentes sua calidez, sua tacto amável… inclusive o aroma especial que te transporta directamente à natureza. Utilizar madeira para fabricar muebles é uma mordomia, e por isso é essencial o fazer de maneira sustentável, cuidando os bosques de hoje e protegendo os de manhã", afirma Arrillaga num statement.

Uma pessoa passa por adiante da loja / LUFE

Carácter e exclusividade na cada peça

"Aqui há um búho", ri uma garota que observa uma mueble dentro da loja efémera da marca. "São patas de dálmata", propõe outra. Mas os nodos na madeira, tal e como explicam desde LUFE, não são sina o resultado de ramos que cresceram desde o tronco da árvore. "São marcas naturais que contam a história de seu desenvolvimento. Longe de ser um defeito, os nodos contribuem carácter e exclusividade à cada peça de madeira, fazendo que a cada mueble seja único", recordam. Fazia falta recordá-lo? Parece que sim.

Por sua vez, veta-las são os anéis de crescimento da árvore, linhas que contribuem "uma textura visual rica e uma conexão profunda com a natureza". Comprovaram-no os cinco criadores de conteúdo que têm colaborado com a marca: Alba Parejo, Ana de Santos, Paula Vilaboy, o casal que conforma Reforma VillaMierda e Ibai Vegan.

IbaiVegan em 'seu' cadeirão / LUFE

Equilíbrio e presença

Esta último conta a Consumidor Global que foi à fábrica da empresa e ali elegeu um cadeirão que leva por nome Oreka, que em vascão significa equilíbrio. "O curro fizeram-no eles, nós temos elegido as tabelas", reconhece. Por sua vez, Sara e Guille optaram por "um mueble com presença, que é uma cómoda, com muitas lambas e muito grandes. Queríamos que se notassem esses defeitos", dizem.

Para além da visibilidade que proporcionam estes influencers, a acção de LUFE vai na linha de combater o desperdicio e recorda, em verdadeiro sentido, à reivindicação das estrias ou os corpos não normativos que se fez desde a indústria da moda ou a da cosmética. Se Ikea fez-se popular proclamando a 'República Independente de Tua Casa', pode que desde LUFE centrem o tiro nas vigas que suportam o teto do reino comum, o de todos. Tocamos madeira.