Mês e meio após a devastadora DANA que arrasou 75 municípios da Comunidade Valenciana, milhares de famílias seguem esperando receber as ajudas públicas noivas.
O colapso do sistema administrativo e a complexidade dos trâmites têm deixado em evidência as carências das instituições, enquanto a solidariedade cidadã tem tomado um papel finque nesta crise, tal como reporta O País.
"Nem sequer sabem o que precisam"
Em Paiporta, um dos municípios mais afectados, a parroquia San Ramón se converteu num refúgio improvisado para o trâmite de ajudas. Ali, Ana Sal, de 38 anos, divide seu tempo entre seu trabalho na empresa valenciana Jeanología e sua voluntariado.
Uma vez à semana, junto com outras colegas, leva seu computador e sua experiência para assistir aos danificados. Em palavras de Ana, o trabalho não é sozinho técnico. "Muitos chegam rompidos, nem sequer sabem o que precisam", aponta.
Menos da metade das solicitações
O processo para aceder às ajudas é laberíntico. A Generalitat Valenciana habilitou uma ajuda direta de 6.000 euros, cujo prazo original vencia o 16 de dezembro mas ampliou-se ao 2 de janeiro.
No entanto, menos da metade das mais de 30.000 solicitações têm sido aprovadas. Ademais, o Governo central dispôs indemnizações por danos em moradias, enseres e perdas pessoais, mas o ritmo de aprovação é alarmante; só 815 famílias têm recebido abonos parciais dos 28.077 expedientes registados.
A cada trâmite é um "inferno"
As dificuldades não são só administrativas. Recuperar documentos básicos para justificar as solicitações tem sido um repto titánico para os afectados, especialmente para pessoas maiores que carecem de conhecimentos digitais ou acesso a internet.
O depoimento de Ana de Miguel, assistente do CEO de Jeanología e outra voluntária em Paiporta, reflete o caos. "A página do Governo pendura-se, e a cada trâmite converte-se num inferno. Os prazos apremian, e as famílias sentem-se abandonadas", enfatizam.
Requisitos difíceis de cumprir
O panorama é igualmente sombrio para as comunidades de vizinhos. As ajudas, que podem chegar a 36.896 euros por danos em espaços comuns, exigem requisitos difíceis de cumprir, como cópias compulsadas do CIF ou documentos inexistentes em muitos casos.
"Estamos a fazer trâmites até a meia-noite e sabemos que faltará documentação", lamenta Assunção Rausell, coordenadora de administradores em Paiporta. Sem modificações ao decreto, os edifícios sem seguro ou administrador ficarão excluídos.
Ajudas insuficientes
O presidente da Generalitat, Carlos Mazón, informou no passado domingo que das 728 solicitações de ajudas ao aluguer por moradias inhabitables, só 177 se pagaram. As ajudas prometidas, que incluem até 800 euros mensais por um ano, son insuficientes em frente à magnitude do desastre.
Ana de Miguel narra o caso de um homem cuja casa, agora inexistente, requeria ajudas por 76.800 euros, uma cifra que nem sequer cobriria a reconstrução. Para ela, o facto de que os danificados devam rogar por apoio é inaceitável. "A Prefeitura sabe quem pagam o IBI; não deveriam ser eles quem tenham que pedir algo", conclui.