Nos últimos anos, a contratação de seguros de viagem tem experimentado um notável descenso, especialmente se compara-se com o auge que viveram durante a pandemia, quando a incerteza e o medo a imprevistos fizeram que muitos viajantes optassem por assegurar seus planos. Apesar desta queda geral, agora surge uma pergunta relevante para os viajantes nacionais: que ocorre se se tem planeada uma escapada por Espanha e, de repente, se apresenta um fenómeno meteorológico tão devastador como a DANA?
Para abordar esta questão, Consumidor Global fala com Beatriz Oficialdegui, diretora de marketing e comunicação da agência de viagens on-line Destinia. Nesta entrevista, Oficialdegui analisa como a percepção do risco tem mudado nos últimos anos. Ademais, explica por que os seguros de viagem continuam sendo uma ferramenta essencial para proteger aos viajantes, já seja dentro ou fora do país, em frente a situações imprevistas que poderiam pôr em perigo seus planos.
--Nos últimos anos a contratação dos seguros de viagens tem caído. Quais são as razões principais por trás da queda na contratação de seguros de viagem após o auge que experimentaram durante a pandemia?
--Sim, a contratação de seguros tem baixado em comparação com o auge que teve durante a pandemia de coronavirus. Nesse momento tinha muita incerteza, e o seguro de viagem disparou-se, tanto o de cancelamento como o de assistência, porque ninguém sabia que podia passar na cada destino. Agora, parece que aos espanhóis se nos tem esquecido um pouco o vivido durante a pandemia e voltamos ao comportamento prévio, onde se contratam menos seguros. Ademais, muitos estão a viajar mais dentro de Espanha, e quando um fica no país, a assistência médica se cobre com a Segurança Social, de modo que não se vê tão necessário. Também, os seguros de cancelamento dependem de reservar antecipadamente, e agora muitos fazem reservas de última hora, onde esse seguro não se costuma contratar.
--Existem outros motivos relacionados com a economia ou a percepção de cobertura que influam nesta baixa demanda?
--Sim, há outros factores que incidem na baixa contratação de seguros de viagem. Primeiro, o incremento nos preços faz que os viajantes ajustem seus orçamentos e, em alguns casos, prefiram destinar o dinheiro a outros aspectos da viagem. Ademais, muitos consideram que estão cobertos por seguros privados, seguros de lar ou inclusive seguros de cartões de crédito, ainda que estes não costumam oferecer uma cobertura integral para viagens internacionais. Apesar disto, a percepção de que estes seguros são suficientes leva a que alguns não vejam necessário contratar um de viagem específica.
--Percebe-se, então, a contratação de seguros de viagem como uma despesa "desnecessária"?
--Não, em general não se considera uma despesa desnecessária. O que ocorre é que a contratação tem baixado por várias razões. Em primeiro lugar, o aumento nos preços das viagens tem reduzido os orçamentos, e alguns viajantes priorizan outras despesas da viagem dantes que o seguro. Quanto mais caro é a viagem, mais elevado é também o custo do seguro, e se alguém tem gastado a maior parte do orçamento na viagem, pode que não lhe atinja para o seguro e decida não se arriscar. Ademais, há quem acham que estão cobertos com outros seguros, como o privado, o do cartão de crédito ou o de lar, ainda que estes não sempre oferecem a mesma cobertura que um seguro de viagem. Também influi que as viagens internacionais, onde mais se contrata este seguro, ainda não têm voltado aos níveis prévios à pandemia.
--Que diferenças tem notado na contratação de seguros para viagens nacionais versus internacionais?
--O que mais se reserva são os seguros de cancelamento. Há dois tipos principais: o de cancelamento e o de assistência. O seguro de assistência cobre em caso que ocorra algo durante a viagem e precises ajuda, enquanto o de cancelamento te reembolsa se não podes viajar por algum motivo. Para viagens dentro de Espanha, muitos optam pelo seguro de cancelamento, já que a assistência está coberta pela Segurança Social e não o vêem tão necessário. A gente costuma reservar mais seguros de cancelamento quando organiza a viagem com muita antelación, já que nesses casos existe maior incerteza. No entanto, se a viagem é numas poucas semanas, muitos decidem não o contratar, já que o preço costuma ser mais alto e preferem assumir o risco, pensando que é pouco provável que ocorra algo num prazo tão curto.
--Existem dados sobre quantas pessoas estão dispostas a assumir os riscos de uma viagem sem seguro?
-Quando se reserva um voo mais hotel ou um pacote de viagem organizada, a percentagem de contratação de seguros é bastante alto, ao redor de 40% a 75%. Ainda que a faixa é ampla, o verdadeiro é que muita gente opta pelo seguro quando elege uma viagem organizada ou um pacote. Em mudança, se reserva-se só um hotel ou só um voo, a contratação de seguros é muito menor, entre um 3% e um 15%, dependendo de se é uma viagem nacional ou internacional. Isto também se relaciona com o custo e o planejamento. Os pacotes e voos mais caros costumam reservar-se com mais antelación, e a maior antelación, mais frequente é a contratação do seguro. Em mudança, com reservas de menor custo, como um voo ou hotel solto, a contratação de seguros é menos comum.
--Que perfil de viajante tende a contratar um seguro de viagem?
--Depende muito do tipo de reserva. Geralmente, quem reservam antecipadamente ou elegem viagens organizadas são os que tendem a contratar mais seguros. Os que preferem organizar sua viagem por conta própria costumam procurar preços mais baixos e, portanto, tendem a contratar menos seguros. Ademais, temos observado que as pessoas maiores são as que mais costumam contratar seguros, enquanto os mais jovens, talvez por não perceber tanto o risco, costumam ser menos propensos ao fazer. Em general, quem optam por pacotes mais organizados tendem a contratar seguros com maior frequência que aqueles que reservam de forma independente.
--Tendo presente a catástrofe pela DANA, acha que existe uma maior predisposición a contratar seguros para escapadas em Espanha?
--Tudo isto é relativo. Ainda que agora se segue falando do tema, uma vez que os meios deixam do cobrir, a gente tende a se esquecer. Se a viagem entra dentro de seu orçamento, seguirão reservando como dantes. Em situações como a DANA ou Filomena, o impacto é imediato, mas em médio prazo a gente se esquece, igual que passou com a pandemia. As decisões de reserva seguem dependendo de factores como o preço, a antecipação e se se prefere organizar a viagem por conta própria ou através de um pacote organizado. Estes factores não mudam. Aqueles que preferem uma viagem organizada seguirão contratando o seguro, enquanto os que procuram preços baixos em viagens soltas não fá-lo-ão com a mesma frequência. De modo que, em curto prazo, pode ter um aumento nas reservas de seguros, mas após uns dias, quando desapareça dos meios, a gente esquecê-lo-á.
--Como de preparados estão os seguros de viagem atuais para cobrir cancelamentos e emergências por fenómenos climáticos como a DANA?
--Os seguros de viagem estão desenhados para cobrir situações específicas durante a viagem, como assistência médica ou repatriación, mas não cobrem o mesmo que um seguro de lar. Por exemplo, um seguro de lar poderia cobrir a perda de uma casa ou de bens por um fenómeno meteorológico, mas um seguro de viagem não cobrir-te-á esses riscos. O seguro de viagem, em mudança, está preparado para oferecer assistência se ocorre algo enquanto estás fora. Muitas pessoas acham que seu seguro sanitário cobre-lhes fora de casa, mas estes seguros costumam ter coberturas mais limitadas para emergências graves.
--Há limitações importantes nestas coberturas?
--Se estás de viagem e afecta-te um fenómeno como uma DANA, por exemplo, se perdes o alojamento, te realojan. Os seguros de viagem cobrem assistência sanitária e outros imprevistos durante a viagem, mas não é o mesmo que quando estás a viver num lugar, já que as perdas são diferentes. Os seguros de viagem estão bem preparados para estas situações. Ainda que agora falamos da DANA, fenómenos como ondas de calor também estão a ser a cada vez mais conceituados nas coberturas. Se viajas a um lugar com temperaturas extremas, como mais de 45 graus, alguns seguros já incluem estes fenómenos dentro das coberturas, já que ocorrem com maior frequência.
--Agora que se acercam as datas navideñas, como afecta a alta demanda de voos e hotéis durante estas datas à importância de contar com um seguro de viagem?
--Em general, o comportamento segue sendo o mesmo durante todo o ano, ainda que em Natal, especialmente em Nochevieja, se costuma notar um aumento. Os espanhóis tendemos a ficar-nos mais em casa em Natal ou a viajar por motivos familiares, mas sem fazer grandes viagens. No entanto, em Nochevieja, a gente é mais propensa a organizar viagens longas e escapar-se uns dias. Nestes casos, a contratação de seguros aumenta, já que muitas pessoas que viajam ao estrangeiro nessa época optam por contratar seguro. Aqueles que viajam por sua conta, sem planos organizados, seguem a mesma tendência que o resto do ano.
--É possível que num futuro próximo o seguro de viagem se converta num requisito indispensável, similar ao seguro de saúde em alguns países?
--Em curto prazo, não é obrigatório, já que depende do país ao que viagens. Por exemplo, em Estados Unidos, muitas pessoas não têm seguro sanitário, pelo que não se obriga a contratar um. No entanto, informa-se aos viajantes e explica-se-lhes que em certos destinos não terás cobertura se não contratas um seguro. Acho que a gente está bastante concienciada ao respeito. Sabem que, em viagens longas ou fora de Europa, é quando mais se contratam seguros, porque são conscientes da necessidade de contar com coberturas adequadas. Ainda que não há uma obrigação formal, se algo sucedesse e não pudesses pagar as despesas, teria que ver como gerir-se-ia, mas por agora não está planificado que seja obrigatório viajar com seguro.
--Finalmente, que mensagem gostaria de transmitir a quem ainda duvidam em contratar um seguro de viagem para escapadas em Espanha, após ver o impacto de fenómenos como a DANA?
--Acho que todo mundo deveria ser previsor e consciente de que o seguro está para quando as coisas não vão bem. É nesses momentos quando realmente te dás conta de sua importância. Se nunca tens tido que o usar, genial, mas quando o precisas, te dás conta de que é uma dos melhores investimentos, já que te brinda segurança e tranquilidade. Se não o tens contratado, tê-lo-ás quando surjam imprevistos.