Nos países desenvolvidos, a obesidad e o sobrepeso converteram-se numa verdadeira pandemia silenciosa. Um estudo da Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição de 2020 estipulou que a taxa de sobrepeso em pessoas adultas na península era de 55,8% da população maior de 18 anos, uma análise que também situava em 18,7% ou à obesidad.
O que se traduz em que mais da metade dos espanhóis enfrenta estes problemas metabólicos, que não só afectam a sua qualidade de vida, sina que também supõem um importante repto para a saúde pública.
A memória da obesidad: que é realmente o efeito quique
Ainda que melhorar os hábitos alimentares e manter uma rotina de exercício são pilares fundamentais para combater esta condição, os tratamentos e seus resultados em longo prazo mostram que não existe uma solução singela.
Nos últimos anos, o aparecimento de medicamentos como os análogos do GLP-1 – o popular Ozempic e Wegovy- têm trazido uma nova esperança para quem lutam contra a perda de importância mais resistente. No entanto, o conhecido "efeito quique", esse temido processo onde o peso perdido se recupera de forma vertiginosa, segue sendo uma sombra que ameaça e asedia inclusive aos avanços mais prometedores.
Como funciona o efeito quique?
A ciência tem explicação para esta zancadilla à saúde que põem alguns corpos. Uma investigação recente publicada na revista Nature tem arrojado luz sobre uma das principais razões pelas que algumas pessoas recuperam os quilos que conseguem perder de forma rápida.
Segundo o estudo realizado por cientistas da Escola Politécnica Federal (ETH) de Zurique, o tecido adiposo -a gordura corporal- tem uma espécie de "memória" que guarda vestígios da obesidad anterior inclusive após emagrecer.
O que diz a ciência: estudos em humanos e animais
Esta memória manifesta-se a nível celular, com mudanças transcripcionales e epigenéticos que predisponen ao corpo a recuperar os depósitos de gordura. Dito de outro modo, a gordura "recorda" seu estado prévio, facilitando o aumento de importância após um período de perda.
A equipa de investigação, liderado por Ferdinand von Meyenn, analisou o tecido graso de pessoas e ratos para compreender estes complexos mecanismos. No caso dos humanos, estudaram mostras de ARN extraídas da gordura de 38 participantes: 18 sem obesidad e 20 com obesidad que tinham perdido ao menos um 25% de seu Índice de Massa Corporal (IMC) depois de se submeter a cirurgia bariátrica.
Uma descoberta com impacto na saúde pública
De maneira similar, também se observaram resultados em ratos, onde se encontraram mudanças epigenéticos na forma em que o DNA se copia ao ARN para activar certos genes relacionados com a formação de novas células gorduras e a síntese de ácidos grasos. Este conjunto de mudanças moleculares contribui ao efeito "obesogénico", aumentando a predisposición ao quique. O estudo tem sido aclamado por especialistas internacionais como José Ordovás, diretor de Nutrição e Genómica na Universidade Tufts de Boston e membro de IMDEA-Alimentação em Madri.
Segundo Ordovás, este achado não só tem envolvimentos científicos, sina também sociais. "Revela a base biológica da recuperação de importância, o que ajuda a reduzir o estigma associado à obesidad. Abre a porta a novas estratégias terapêuticas que poderiam incluir medicamentos ou inclusive técnicas de edição epigenética para reiniciar a memória do tecido adiposo", explica do ponto de partida para melhorar a capacidade de manter o peso perdido.
O futuro da obesidad está em estratégias personalizadas
Este estudo sublinha a necessidade de procurar melhores enfoques e mais personalizados baseados no perfil genético e epigenético da cada pessoa. A nível clínico, poderia significar a incorporação de tratamentos mais precisos que tenham em conta como a cada indivíduo responde à perda de importância.
Por outro lado, em termos de saúde pública, este achado reforça a urgência de prevenir a obesidad desde etapas temporãs, evitando a consolidação desta "memória" no tecido graso.
Para além da báscula: uma visão integral
Combater a obesidad não se trata só de números numa báscula. Esta descoberta recorda-nos que perder peso e o manter é um processo que envolve não só o corpo, sina também factores moleculares e metabólicos profundamente arraigados.
O avanço no entendimento da memória da obesidad abre novas possibilidades para enfrentar esta crise de forma mais efetiva, mas também nos recorda a importância da prevenção e o tratamento em longo prazo. Porque para além das dietas de moda, a verdadeira mudança começa quando ciência e saúde vão da mão para cuidar de nós mesmas.