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Cuidado com os vinhos submarinos: a tendência enológica com a que te podem colar gato por lebre
Os enólogos sublinham que a qualidade do vinho vai conforme com a da uva e a imersão marinha simplesmente é um extra a seu maduración
Os vinhos submarinos não são nada novo mas nos últimos anos é quando têm soado com mais força. Estes não se encontram nos grandes supermercados sina em vinotecas mais especializadas e na alta restauração.
Agora bem, como com quase tudo, muitas vezes tratam de vender a preço de ouro o que em realidade é um vinho baratero numa garrafa bonita. Um produto que nada tem que ver com o que oferecem outras adegas. A chave? A qualidade da uva.
Que são os vinhos submarinos
Comecemos pelo princípio: que é um vinho submarino? É um como qualquer outro no que a qualidade vem determinada pela uva. Mas sim tem uma diferença com respeito ao resto: submete-se às condições do mar.
O mar não é nenhuma pócima mágica que converte um vinho mau em bom. De facto, a bióloga Ana Risse da Adega Crusoe Treasure recalca a este meio que para ter um vinho de qualidade há que submergir um de qualidade. Neste sentido, influem dois factores: como tem sido a acrescente em terra e as condições do mar.
Mais de 70 euros por uma garrafa
O preço dos vinhos submarinos fica justificado pela qualidade da uva. Assim o explica a este meio Pepe Marín, enólogo e fundador da Adega Submarina do Mediterráneo. Quanto melhor seja a uva, mais cara será a garrafa, ao igual que ocorre com os vinhos terrestres.
Os vinhos deste enólogo superam os 100 euros e estão focados à alta restauração. Outras adegas trabalham com preços um pouco inferiores mas, em qualquer caso, os derivados submarinos custam mais de 70 euros.
A 20 metros de profundidade durante um ano
Não faz sentido submergir um vinho de má qualidade. O motivo? A maduración baixo o mar não é nada barato para as adegas. Uns 45.000 euros ao dia por operação, cifra Marín.
No caso de Risse, contam com um arrecife artificial na baía de Plencia (País Basco) enquanto Marín realiza a imersão na costa alicantina. A uns 20 metros de profundidade ficam estes vinhos durante um ano, mais ou menos. Como se submerge ? "Com um silo de maduración", sublinha Marín.
O processo
O processo de maduración do vinho submarino começa na terra. Primeiro passa o tempo que requeira na barrica, depois chega o turno do submergir. Este passo pelo mar contribui à bebida um toque mais maduro.
"O água penetra no cajón provocando uma microvibración constante no vinho. Isto faz que todos os compostos, especialmente polifenoles, estejam em atrito. Isso gera uma reacção química e esta vai dar como resultado um vinho muitíssimo mais complexo", explica Marín.
Em procura do "momento óptimo"
Enquanto o vinho está submergido no mar, Risse explica que se deve fazer um rastreamento para corroborar que tudo está em ordem. "Nós o extraímos quando atinge seu momento óptimo baixo o mar. Isto é, quando tu notas mais as características mas não se perderam as propriedades", explica.
Uma vez que se atingiu o ponto desejado, toca sacar o vinho. Para isso, uma equipa de buzos extrai as garrafas. "Fazemos-lhe uma lavagem com água doce para matar os bichitos e um tratamento de ozónio para os maus cheiros", explica Marín.
Como afecta o mar ao vinho
A grande pergunta é que efeito tem o mar no vinho. Pois bem, Marín assegura que se pode chegar a conseguir um efeito de maduración equivalente aos 10 anos em terra. Uma ideia com a que não está de acordo Gil Núñez, assessor de enología das Adegas Tritium. "O vinho envelhece e se oxida igual", sublinha.
Segundo este experiente, o que se consegue com a criação marítima é que a parte dos toninos está mais limada. "Os efeitos que se procuram são de pressão, temperatura e movimento que lhe dá certa maturidade ao vinho", expõe Núñez. "Podem-se dar pequenas alterações na forma gustativa e aromática. Sempre o do mar pode ser mais refinado mas não mais oxidado", acrescenta.
Gato por lebre
Como com quase todo o que afecta ao consumidor, não é ouro todo o que reluce. E não sempre um vinho submarino de 70 ou 80 euros é o que promete ser. Marín sublinha que quando começou neste mercado no ano 2020, tinha certas reticencias por parte de alguns clientes.
O motivo? Tinham-lhes colado um vinho de cinco euros a 70 euros com a desculpa da imersão marinha. "Há gente que quer ganhar dinheiro e se aproveitam do aspecto do vinho e o desconhecimento da gente mas realmente o que vendem são 'souvenirs'", reconhece Marín.
Um argumento de venda infalible
Pôr o adjectivo "submarino" junto à palavra "veio" é um argumento de venda infalible. Mas já se sabe que há que pregar com o exemplo. "Não quero que vingam e me digam que este vinho vale o que vale porque tem estado embaixo do mar. Não. Este vinho, sem a imersão marinha, seguiria valendo o que vale", recalca Marín.
"Um bom veio melhora, um mau vinho piora. O mar é muito brusco, tem muita energia. Por trás do vinho submarino há ciência, experiência e conhecimento", sentença Risse. Como se pode identificar um bom vinho? Em realidade só os paladares mais profissionais têm essa capacidade, para o resto é como lançar uma moeda ao ar: questão de sorte.
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