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O Carrefour tira partido da eliminação do IVA sobre o azeite: esta imagem prova-o.

A redução do imposto para 0% não parece beneficiar diretamente o consumidor porque alguns supermercados violam a lei da cadeia alimentar.

Juan Manuel Del Olmo

Uma mulher olha para um óleo no Carrefour / CG PHOTO SHOT CG

"Não vai ajudar". É o que anteciparam no final de 2022 alguns membros do Governo ante a proposta de baixar o IVA dos produtos básicos, uma medida que pretendia amortecer o efeito de uma inflação letal que rasgava a economia de muitas famílias. UUm dos punhais que mais danos infligiu aos orçamentos familiares foi e continua a ser o custo do azeite.

Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o azeite era em maio de 2024 mais 62,8% caro que um ano antes. Desde janeiro de 2021 acumulava um estratosférico repunte de 198,5%, o que significava que o seu custo quase tinha triplicado em três anos. Finalmente, o Governo aprovou no final de junho a eliminação do IVA para o azeite (vigente desde 1 de julho), mas nos supermercados não se notou uma descida séria, mas sim um remendo, uma teatralização que, para alguns, é embaraçosa: há cada vez mais vozes a acusar os grandes retalhistas de se aproveitarem da eliminação do imposto.

As margens ficam na distribuição

A Coordenação das Organizações Agrícolas (COAG) já estava a sentir o cheiro a torrada antes da entrada em vigor da medida. No final de junho, o responsável pelos olivais da organização, Juan Luis Ávila, pediu ao Governo que estivesse "vigilante" para que a anunciada abolição do IVA sobre o azeite chegasse ao consumidor, pois considerava que "normalmente estas margens tendem a ficar na distribuição".

Garrafas de azeite / EUROPA PRESS - EDUARDO PARRA

Ávila falou por experiência própria. No verão de 2022, o COAG denunciou que a distribuição estava a duplicar as suas margens sobre o preço do azeite, penalizando o consumidor, quando o preço de origem era mantido para os olivicultores. No ano seguinte, a Unión de Pequeños Agricultores y Ganaderos (UPA) foi mais contundente e denunciou que o preço do azeite a 9 euros não beneficiava os consumidores nem os agricultores. "Os olivicultores são prejudicados por um preço anedótico e fictício, porque não tem um impacto direto na sua conta de ganhos e perdas, uma vez que não têm uma colheita significativa para vender. O sector continua em crise", afirmaram na altura.

O IVA baixa, o custo sobe

Por seu lado, as associações de consumidores denunciam há meses a escalada do preço do ouro líquido. O Carrefour, por exemplo, terá aumentado o preço de uma garrafa de litro de azeite virgem extra Maestros de Hojiblanca de 14,95 para 15,99 euros, três dias após a entrada em vigor da medida do Governo. Além disso, um tweet tornou-se viral nas redes sociais, mostrando outro surpreendente aumento de preço nas prateleiras da cadeia francesa.

Segundo publicou um utilizador no X (a antiga Twitter), antes de que o IVA baixasse a 0%, a garrafa de 5 litros de Azeite virgen extra Dcoop custava 42,20 euros. Depois, com a redução ativa, o preço era de 43,95 euros.

As garrafas de azeite Dcoop / CARREFOUR

Carrefour não diz nada

Este meio perguntou ao Carrefour como explica este aumento e quantos azeites à venda nas suas lojas beneficiaram da redução do IVA, mas a empresa não respondeu. Os que reconhecem que, nalguns locais, as coisas estão a correr mal são alguns pequenos produtores de Castilla-La Mancha, que se dedicam ao alvo mais nobre.

"A abordagem da medida é positiva, porque procurou estimular o consumo e beneficiar o consumidor, mas estamos a ver que há grandes supermercados a aproveitarem-se da situação. E isto não pode ser", explicam ao Consumidor Global, de forma categórica. "O facto de o IVA não ser cobrado significa que é feito um esforço por todos os contribuintes... que acaba por ir parar à conta de resultados das grandes empresas", denunciam. De acordo com algumas estimativas, os cofres públicos vão perder cerca de 45 milhões de euros.

Um supermercado de Carrefour / CG

O poder do consumidor

"O consumidor tem mais poder do que às vezes pensa. O consumo é um acto em que se pode escolher, de modo que, se podes ir a uma cooperativa a conseguir o azeite, quiçá seja um acto mais consciente e mais económico", opinam.

Estes produtores preferem não citar nomes específicos, mas dizem que são "os grandes", incluindo os grupos petrolíferos e não apenas os supermercados, que estão a permitir que isto aconteça. "O Estado tem a tarefa fundamental de regular. Regulamentar e garantir que a lei é cumprida, porque agora há uma lei da cadeia alimentar que não está a ser cumprida no caso do azeite e de muitos outros produtos que vêm do campo, como o alho", expõem.

Azeitonas numa oliveira / PEXELS

Cautela perante as recessões

Por fim, quando questionados sobre as descidas de preços previstas para o final do ano (alguns especialistas prevêem que, graças às chuvas e ao aumento da produção, dentro de cerca de seis meses o preço do litro de petróleo baixará para 5 euros), estas fontes preferem ser cautelosas.

"É verdade que estamos melhor que há um ano, mas não temos uma bola de cristal, e até que a azeitona não entre no lagar, a mudança climática pode nos danificar. Estamos optimistas, mas cautelosos", concluem.