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Calvo retira o seu atum 0% matéria gorda por ser de pior qualidade que o resto
A empresa espanhola de conservas utilizou uma alegação que não é um benefício, mas uma deficiência nutricional do seu produto.
Imaginam-se a uma marca de bebidas a vangloriar-se de que o seu sumo de laranja tem 0% de vitamina C? Ou a uma de iogurtes que utilizasse a afirmação 0% proteínas? Calvo fez durante anos com o seu atum 0% matéria gorda, mas a marca do grupo Nauterra por fim reconheceu o seu erro.
Se alguém procura esta variedade de atum no Carrefour, Alcampo, Eroski ou qualquer dos supermercados onde se vendia este e outros produtos Calvo, já não encontrá-la-á. "Devem tê-lo retirado porque não me aparece disponível nem no site nem na loja", dizem do serviço de atendimento ao cliente de supermercados Dia.
Calvo retira o seu atum 0% matéria gorda
O atum Calvo 0% matéria gorda "foi retirado porque não estava a ter grande movimento em termos de vendas”, confirmou a Nauterra a este jornal.
"Era uma brincadeira", aponta a professora de Nutrição Humana e Dietética da Universidade Isabel I Beatriz Robles, que já criticou a duvidosa qualidade nutricional deste produto da Calvo num artigo publicado no Eroski Consumer.
Uma afirmação absurda
Com a afirmação 0% matéria gorda Calvo queria destacar "um benefício que não é tal", lembra Robles, que assinala que nem todas as gorduras são iguais e que a do peixe é um dos seus nutrientes mais valiosos.
De facto, a Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição (Aesan) estabelece que o principal valor nutricional dos peixes azuis está justamente nos seus ácidos gordos poliinsaturados omega 3 (docosahexaenoico e eicosapentaenoico). Por este motivo, a Aesan aconselha priorizar o consumo de peixe azul sobre o branco. No atum 0% matéria gorda da Calvo "este valor diferencial perdia-se ao estar livre de gordura", acrescenta a tecnóloga alimentar.
Um produto de qualidade inferior e preço superior
Por sorte, a marca Calvo voltou atrás e retirou do mercado o seu atum sem ácidos gordos.
"A qualidade nutricional deste produto é inferior à de um atum convencional que contenha gordura. Esta afirmação aproveita a ideia errada de que se deve evitar este nutriente. Ademais, o seu preço era 18% superior ao do atum ao natural da mesma marca", diz Robles sobre o disparate do atum com 0% de gordura da Calvo.
A alternativa da Nauterra ao atum sem ácidos gordos
“Optámos pelo aumento das proteínas e mudou-se o 0% matéria gorda pelo atum claro ao natural +Pró, que se lançou há três ou quatro meses", dizem da Nauterra.
Tornou-se um lugar-comum para a indústria alimentar gabar-se de truísmos ou do que lhe falta. Utilizar afirmações que são prejudiciais para seu próprio benefício é jogar o jogo da fachada.
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