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Bolachas digestivas, um "ultraprocesado mais" que engana ao consumidor

Estas 'cookies', entre as que destacam as Fontaneda Digestive, aparentan ser uma opção mais saudável em frente ao resto mas os experientes advertem de que se trata de uma alternativa insana que bordea a legalidade

Ana Siles

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Os lineares dos supermercados estão repletos de produtos ultraprocesados que se camuflan entre reclamos comerciais e desenhos sofisticados das embalagens. Um das maiores fraudes é o das bolachas digestivas.

Apesar de sua popularidade, estas cookies têm sabido aproveitar o desconhecimento do consumidor e posicionar-se como um produto mais saudável do que realmente é. Com eslóganes que evocam o bem-estar digestivo e desenhos que realçam ingredientes naturais, ocultam seu verdadeiro perfil nutricional: o de um ultraprocesado repleto de açúcares e gorduras de baixa qualidade.

Fontaneda, a rainha das falsas bolachas 'digestivas'

Fontaneda é uma das marcas mais conhecidas por sua bolacha digestive. Durante anos e na actualidade, muitos utentes crêem erroneamente que possuem propriedades diuréticas ou benefícios digestivos. No entanto, nada mais longe da realidade.

Bolachas digestivas de Fontaneda / O CORTE INGLÊS

A confusão não é casual. O termo digestive induze a pensar que se trata de um produto mais são. Em mudança, no próprio reverso da embalagem de Fontaneda aclara-se que "a palavra digestive não significa que a bolacha contenha características dietéticas digestivas".

Uma ilegalidad camuflada

A razão pela que as embalagens das bolachas digestivas incluem esta nota aclaratoria é singela: as marcas são conscientes de que o termo digestive pode confundir (e confunde) aos utentes.

Marina Diana, doutora em Nutrição da Universidade Ramon Llull-Blanquerna, sustenta que o Regulamento (UE) 1169/2011, encarregado de regular a informação alimentar, adverte em seu artigo 7 que os dados proporcionados sobre um produto não devem induzir a erro ao consumidor. "As marcas sabem que estão a incumprir bastante o regulamento e, por isso, aclaram por detrás que a palavra digestive não implica que tenha propriedades digestivas", explica a este meio a experiente.

Bolachas de avena / Pixabay

Um "ultraprocesado mais" e mais caro

As bolachas digestivas costumam ser mais caras que as tradicionais, com preços que no caso de Fontaneda rondam os quatro euros por pacote. Ainda que existem opções mais económicas de marcas brancas, estas também costumam custar entre duas e três euros.

Agora bem, não importa o preço porque todas estas cookies são "um ultraprocesado mais", aclara a Consumidor Global Mónica Cortês, nutricionista de Blua de Sanitas. "Algumas versões modernas têm um conteúdo calórico e de açúcar similar ou inclusive superior ao de outras bolachas menos 'saudáveis'", confessa Cortês.

A origem do engano: o bicarbonato sódico

O termo digestive tem sua origem no uso de bicarbonato sódico, um ingrediente empregado na bollería industrial como gasificante para aumentar o volume da massa. Trata-se de um composto conhecido por seu efeito antiácido e que deu lugar ao nome comercial de "digestivas". Não obstante, quando o bicarbonato se submete a fontes de calor perde sua capacidade antiácida.

O resto dos ingredientes que compõem estas bolachas são farinhas refinadas, açúcar, azeites vegetais de baixa qualidade como o de palma, algo de farinha integral, sal e, em ocasiões, mel ou jarabe de glucosa. "Ainda que a fibra da farinha integral é um ponto positivo, não é suficiente para compensar os ingredientes menos saudáveis", adverte Cortês.

Uma mera estratégia de marketing

Fica claro que o perfil nutricional das bolachas digestivas tanto faz que o do resto de cookies. Mas a engañifa também se translada à embalagem destas bolachas. No caso de Fontaneda, o desenho destaca o trigo como se as bolachas estivessem feitas principalmente deste cereal, quando em realidade só contémn farinha de trigo refinada.

Assim, o termo "digestivas" ou "digestive" é "mais uma estratégia de marketing que uma verdade nutricional", sentença Cortês. "Fazem um jogo de palavras para enganar ao consumidor", conclui Diana.