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Do tronco do roble aos estantes de Carrefour: assim são as "maravilhas fúngicas" de Shiit-Astur
O projecto de María Monge tem sido premiado pela Federação de Associações de Mulheres Rurais (Fademur), e explica que estes alimentos, que ela mesma cultiva directamente em árvores autóctonos, têm multidão de propriedades
Num pequeno bosque de Belmonte de Miranda, em Astúrias, há um eco de Japão. Não porque num claro se erija um templo budista, com sobrias e harmônicas colunas de madeira, nem também não porque a floração de cerezos seja um reclamo que atraia a multidão de visitantes. Nada disso. Há porque existe um projecto que aúna sabor e respeito ao meio ambiente: Shiit-Astur, uma empresa dedicada à seta shiitake (originaria de Ásia Oriental), que agora tem recebido um prêmio de Carrefour e a Federação de Associações de Mulheres Rurais (Fademur).
María Monge é a empreendedora que está à frente do projecto, nascido em 2019. Cinco anos mais tarde, Shiit-Astur tem sido galardoado no marco dos Prêmios PME, que o supermercado francês concede no âmbito autonómico.
Mudança de rumo
"Não nos dedicávamos a nada relacionado com a alimentação ou a gastronomia", reconhece Monge a este meio. Ela e seu marido (que de vez em quando lhe joga um cabo, mas não se dedica inteiramente ao projecto) viviam em Madri e trabalhavam para uma multinacional até que decidiram dar uma mudança de rumo a sua vida.
"Em minha família sempre teve cultura de setas, de ir colectar ao bosque, mas ninguém tinha cultivado nunca. Quando decidimos nos vir a Astúrias, vendo o clima tão bom para as setas que tinha, fomos pesquisando e afundando neste mundo. Foi então quando demos com esta nova forma de cultivar shiitake, e decidimos nos lançar", relata.
Cultivo das setas
Não procuravam só "produzir um superalimento" sina que vislumbraron que com Shiit-Astur podiam ajudar à conservação dos bosques, lhe dando novos usos. E é que as setas se cultivam directamente em troncos de roble e castaño de monte autóctono, no qual inoculan semente de seta, isto é, um micelio de alta qualidade sobre sustrato de serrín de roble.
"Uma vez inoculado, o tronco se sella com cera natural de abeja proveniente de produtores locais", explicam em sua página site.
Solomillo de bosque
Perguntada pelas características organolépticas da seta shiitake, esta experiente assegura que "o costumam chamar solomillo de bosque", já que "não solto nada de água" e também não tem nada de irrigação, já que se produz com a humidade do bosque. A primeira vista, o que mais destaca destas "maravilhas fúngicas" é o maior tamanho do chapéu, sua cor ("é um marrón mais terroso") e uma sorte de escamas que variam em função das temperaturas.
A seta shiitake, expõe Monge, é considerada um superalimento por suas "propriedades medicinales". Monge afirma que é "a segunda melhor seta que há no mundo, só por trás do reishi. Tem acção antitumoral, antiviral, antibacteriana, antivírica… De facto, ajuda a regular o sistema inmunitario, pelo que se recomendam dois raciones de setas shiitake à semana, o que equivaleria a uns 150-200 gramas semanais", assegura. Também há quem destacam seus altos níveis de vitamina D.
Prêmio
Sua empresa é um sonho pessoal sustentável, mas também um sintoma. "O consumo de setas em Espanha está a crescer. Íamos à bicha em consumo deste alimento, e cada vez vamos sabendo mais sobre os valores nutricionais e as características que possuem", expõe Monge.
Conta que o prêmio de Fademur "tem significado muitíssimo: nós sabíamos que tínhamos um bom produto, mas o mais difícil não é o produzir, sina o comercializar". "De modo que temos muito que agradecer a Fademur, porque estão a nosso lado desde que começamos em 2019, nos apoiaram, valorizado e com eles temos podido comercializar um maior número de tarros", argumenta.
Conservas
Agora chegarão aos estantes dos supermercados asturianos de Carrefour seus cinco conservas: paté de shiitake à sidra doce (100 gramas, 6,40 euros), paté de shiitake de roble com tomates secos (100 gramas, 6,60 euros), shiitake deshidratado ahumado umami (15 gramas, 7,90 euros), garbanzos com shiitake (200 gramas, 7,90 euros) e confit de shiitake de roble à sidra doce (200 gramas, 9,90 euros).
Na loja on-line também é possível comprar um pack capricho ou uma cesta presenteio.
Conciliar vida pessoal com a trabalhista
Um de seus principais objectivos ao deixar Madri era poder conciliar a vida familiar e a trabalhista. "É algo que temos clarísimo que não queremos perder", diz Monge. Assim, pelas manhãs, de segundas-feiras a sextas-feiras, fazem os labores de cultivo e de cuidado das setas na finca, que está a uns 15 minutos do colégio ao que vão suas filhas, e algumas tardes Monge trabalha em sua obrador.
"Está em meu domicílio, numa antiga quadra que reformamos e transformamos em obrador. Aí é onde faço as conservas um par de dias à semana", conta. Também elabora massas frescas ecológicas certificadas, sem gluten e avaladas com o selo Alimentos do Paraíso: Raviolones de shiitake com tomates secos, sorrentinos de shiitake com queijo cabrales ou sorrentinos de compango com mantequilla ao pimentón picante. Pelo momento, só podem as adquirir os consumidores que vivam em Astúrias.
Amor e elaboração artesanal
"Presumimos de uma textura em nossas massas ideal e para isso utilizamos farinhas de almidón de milho e trigo sarraceno como ingrediente principal, todo isso elaborado num obrador 100% LIVRE DE GLUTEN, com muito amor e elaboração artesanal em toda nossa faixa, de princípio a fim", expõem no site.
À pergunta de onde vê Shiit-Astur dentro de um ano, Monge afirma que espera "o poder sacar de Astúrias, não só o comercializar aqui, crescer em produção e quiçá meter a alguém a trabalhar comigo".