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As guias de alimentação saudável não deveriam ser apenas um conteúdo da primária
A maior parte das directrizes modernas sobre alimentação saudável são a pedra angular das recomendações dietéticas para a saúde. No entanto, grande parte da população em geral assume-as como simplistas e de conteúdo infantil.
Se és jovem ou se tens filhos em idade escolar, terás comprovado que é principalmente em Educação Primária e também --mas não tanto-- na Educação Secundária quando os menores recebem informação sobre alimentação saudável. Estes conteúdos apoiam-se sempre numa série de infografias conhecidas no general como pirâmide, triângulo ou prato da alimentação saudável. Os adultos, também no general, temos verdadeiro conhecimento destas ferramentas, mas habitualmente as consideramos como um recurso infantil ou inclusive naíf.
Não obstante, a informação contida neste tipo de iconografías é --ou deveria ser -- o eixo central sobre o qual articular o nosso dia a dia alimentar. No entanto, nada mais afastado da realidade. Relativo a obter informação, a maior parte de nós deixa-se asesorar pelos abigarrados conteúdos das redes sociais ou pelos da publicidade, cheios em muitos dos casos de tecnicismos e, em não poucas ocasiões, de abusrdos sem pés nem cabeça. Poderia dizer-se que no que se refere à confiança na informação, aquela que é simples nos parece simples e em verdadeiro modo incompleta e, por isso, terminamos a procurar a complexidade de explicações que dêem luz a mensagens que maldita a falta que fazem. E isto é um erro já que as guias alimentares são, bem entendidas, chave para entender como temos de nos relacionar com as diferentes opções alimentares.
Nem todas valem
Antes de continuar, deixem-me dar um dado para o debate e a controvérsia: nem todas as guias alimentares são iguais. Há válidas, regulares e também as há inapropiadas. E não me refiro ao formato, isso é evidente, já que temos pirâmides, pratos, triângulos e, em resumo, um quase infinito etc de ícones gráficos que ilustram as também quase infinitas guias alimentares. Digo que nem todas são iguais em especial no que refere ao seu conteúdo ou à mensagem que transmitem. A origem de tanta divergência nas mensagens alimentares tem duas origens possíveis. Por um lado, é habitual que muitas guias alimentares, ainda que sejam de recente cunho ou edição, não sejam mais que um copy-paste de guias anteriores concebidas no contexto do conhecimento do século passado. Assim, por muito que se trate do inovador lançamento de umas guias alimentares de uma conhecida sociedade científica, algumas guias podem ser ferramentas absolutamente desactualizados.
Por outro lado, a validade da mensagem das diferentes guias também pode estar enviesada em virtude dos interesses que tenham motivado a sua criação. Sei que pode resultar um elemento frustrante, mas é necessário conhecer que os interesses por trás de uma determinada guia não respondem sempre a questões de saúde pública, mas que também podem --e em certa medida costumam-- responder a questões políticas e económicas, incluindo ou posicionando determinados grupos de alimentos que não deveriam estar no lugar que ocupam (assim o diz o O Livro Branco da Nutrição em Espanha na sua página 215).
Estas são as guias alimentares nas quais podes confiar
Tendo em conta todo o dito e apostando na simplicidade como objectivo, podem-se identificar duas características que enfeitam as melhores guias alimentares:
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Põem o foco nas opções vegetais como legumes, hortaliças e frutas ao contrárop das guias alimentares de outro tempo (apesar de que se tenham publicado recentemente) cuja base ou centro estava focalizado nos alimentos de origem cereal ou inclusive ricos em hidratos de carbono.
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Apontam de forma acusadora e clara para as escolhas menos convenientes ou mesmo pouco saudáveis. Como diz o ditado, "não é o mais limpo que limpa mais, mas o que suja menos", o mesmo se aplica à área da alimentação. É muito mais eficaz preocupar-se em não fazer as coisas erradas do que em fazer as escolhas certas. Nesse sentido, os melhores guias apontam tanto para as opções ultraprocessadas quanto para as bebidas alcoólicas, que devem ser claramente identificadas como um inconveniente.
Entre as guias alimentares que melhor cumprem estas características cabe assinalar o Prato da Alimentação Saudável da Escola de Saúde Pública de Harvard, o Triângulo (investido) da Saúde Belga, as guias oficiais de Suécia ou a pirâmide de criada pelo Colégio de dietistas-nutricionistas de Andaluzia.
Mais importantes do que acreditas
Se apesar do dito, as guias de alimentação saudável dirigidas à população geral continuam-te a parecer um tema para crianças, deixa-me dizer-te algo. Imagina que tens nas tuas mãos três guias de alimentação saudável destinados a diferentes grupos de pacientes. Imaginem, portanto, que têm as directrizes da Associação Americana de Diabetes, da Associação Americana do Coração e do Fundo Mundial de Investigação do Cancro. Pois bem, se retirarem as capas de cada um destes guias, os copiarem a todos e lhes derem o mesmo formato, garanto-vos que ninguém conseguirá distinguir um do outro.
A razão? É simples, as recomendações que se dão sobre dieta e alimentação para o tratamento e prevenção da diabetes, das doenças cardiovasculares e para o cancro são virtualmente idênticas. Como idênticas são também ss recomendações que se encontram nas guias dirigidas à população geral. Essas mesmas que estudam os teus filhos na primária (desde que sejam as que estão actualizadas, claro). Como vê, as directrizes alimentares não são uma brincadeira de crianças. Apesar do facto de serem frequentemente vistas como tal.
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